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Mulheres do MST realizam ato em frente a revendedora de armas da Taurus em São Paulo

A ação destacou o aumento do número de feminicídios praticados com armas de fogo no Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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No primeiro semestre de 2022, a receita das vendas da Taurus no Brasil aumentou 47,4% em relação ao mesmo período do ano anterior - Gabriela Moncau/Brasil de Fato

Cerca de 200 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fizeram uma manifestação em frente à loja Conceito AMTT, revendedora de armas das empresas de armas e cartuchos, Taurus e CBC, no começo da tarde desta sexta-feira, 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.  

A ação, que visa denunciar o aumento do feminicídio no país, a flexibilização do acesso a armas de fogo e a exportação de materiais bélicos a Israel, integra a jornada nacional do movimento neste dia internacional de luta das mulheres. O mote deste ano é  "Lutaremos por nossos corpos e territórios - nenhuma a menos".

O grupo de mulheres relembrou o aumento do número de feminicídios por arma de fogo no país, principalmente após os decretos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) flexibilizarem o acesso ao porte e posse de armas no país. Em 2023, 1.463 foram vítimas de feminicídio, de acordo com o Anuário brasileiro de Segurança Pública 2023, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e publicado nesta quinta-feira (7). A quantidade de feminicídios aumentou 1,6% em relação a 2022. De acordo com o relatório, é o maior número já registrado desde a tipificação da lei, em março de 2015.


Quantidade de vítimas de feminicídio em números absolutos entre 2015 e 2023 / Reprodução/FBSP

Ainda de acordo com o relatório, as armas de fogo são o principal instrumento utilizado nos casos de feminicídio no Brasil: 68,6% dos casos foram praticados com esse tipo de instrumento.

Nesse cenário, também em 2022, 783.385 pessoas foram registradas como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), sete vezes mais do que em 2018. Quanto às munições, foram 420,5 milhões apenas no ano passado, um aumento de 147% desde 2017. 

No primeiro semestre de 2022, a receita das vendas no mercado interno da empresa Taurus aumentou 47,4%, em relação ao mesmo período do ano anterior, gerando um lucro líquido de R$ 295,8 milhões. 


A quantidade de feminicídios aumentou 1,6% em 2023 relação ao ano anterior / Gabriela Moncau/Brasil de Fato

"Essa ação de hoje é pela vida. Pela vida de todas as mulheres. Pela vida de Nega Pataxó, pela vida das mulheres palestinas que estão sendo assassinadas na faixa de Gaza junto com suas crianças e bebês. E por todas as mulheres originárias que perderam suas vidas na luta pela terra", afirma o MST em nota. 

"População armada é segurança pra quem? A violência sentida no campo, onde a sanha por lucro do agronegócio e da mineração é expressa nas sistemáticas violências sofridas pelos povos do campo, das águas e das florestas que, em busca insaciável por territórios, passa por cima dos corpos e da natureza", denuncia o movimento.

A empresa é responsável pela comercialização de revólveres, pistolas, submetralhadoras, fuzis, carabinas, rifles e espingardas, com abrangência nos mercados civil, militar e policial no Brasil e em cerca de outros 100 países. Em seu site, a Taurus se define como uma Empresa Estratégica de Defesa e integrante da Base Industrial de Defesa (BID), com 83 anos de história. 

Um dos países para o qual a empresa exporta armamentos é Israel, que já matou pelo menos 30.717 palestinos e deixou outros 72.156 feridos em ataques realizados na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina. O massacre na região começou depois que o Hamas – grupo armado palestino que governa a Faixa de Gaza – fez um ataque em Israel, em 7 de outubro do ano passado.  

Na segunda-feira seguinte ao ataque, as ações da Taurus no mercado financeiro fecharam em alta de 2,22%. No dia seguinte, o aumento foi de 5,3%. No entanto, o crescimento no mercado israelense é anterior à data de início do massacre, quando Israel decidiu facilitar o acesso da população às armas. No primeiro semestre de 2023, a exportação de armamentos da Taurus ao mercado israelense cresceu cerca 700%, em comparação ao mesmo período do ano passado, de R$ 560 mil para R$ 4,9 milhões. 

Dos mais de 30 mil palestinos mortos, 25 mil são crianças e mulheres, de acordo com o próprio secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que sai em defesa do governo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. De acordo com o site da empresa armamentista, a palavra Taurus, no latim, significa touro. "O Touro, desde a antiguidade, representa força e vigor. A Taurus é inspirada nesse conceito."

Em nota, a AMTT categorizou a ação como "ato de vandalismo" e afirmou que registrou boletim de ocorrência contra as participantes do ato. Leia a íntegra da nota:

"O ato realizado nesta sexta-feira (08.mar.2024) em frente à loja AMTT não foi uma manifestação pacífica, foi um ato de vandalismo, pois caso contrário as pessoas não estariam com seus rostos cobertos cometendo ações de violência. A AMTT lamenta e repudia os atos de vandalismo contra o estabelecimento, com depredação da fachada, que geraram prejuízos e transtornos à empresa, assim como forte insegurança aos seus colaboradores. A AMTT já fez o registro por meio de Boletim de Ocorrência, com as imagens e dados dos veículos, e aguarda providências legais das autoridades. A AMTT lamenta esses atos violentos contra empresas idôneas que pagam impostos e geram milhares de empregos no país."

Edição: Thalita Pires