Durante encontro com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, nesta quarta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a cooperação entre os dois países no combate à extrema direita e reforçou o posicionamento do Brasil a favor da criação de um Estado palestino, posição também defendida por Sanchez.
"Espanha e Brasil são duas grandes democracias que enfrentam o extremismo, a negação da política e o discurso de ódio alimentado por notícias falsas. Nossa experiência no enfrentamento da extrema direita que atua coordenada de forma internacional, nos ensina que é preciso unir todos os democratas do mundo”, disse Lula em seu comunicado à imprensa.
A partir de sua agenda internacional no final de fevereiro com participação nas cúpulas da União Africana, da Comunidade de Países do Caribe (Caricom) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, o presidente brasileiro ressaltou “a grande convergência no Sul Global em torno da necessidade de reforma das organizações internacionais”, e citou o quadro Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso para criticar a “paralisia” do Conselho de Segurança da ONU.
“A obra Guernica de Pablo Picasso sintetiza a indignação com o horror e a destruição causada por todas as guerras e conflitos e deve servir de inspiração para a comunidade internacional. A paralisia do Conselho de Segurança frente à guerra da Ucrânia e Gaza é prova cabal da necessidade de reformas urgentes no sistema de governança global para torná-lo mais representativo, legítimo e eficaz”, disse o presidente brasileiro.
Lula defendeu ainda a necessidade de avançar “imediatamente” na criação de um Estado palestino e “reconhecê-lo como membro pleno da ONU, um estado que seja economicamente viável e que possa conviver em paz com Israel”. Assim com o Brasil, a Espanha tem adotado um tom mais duro para se referir ao massacre promovido por Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza e defende publicamente a criação de um Estado Palestino.
"Sempre cobramos a importância da coerência com relação ao direito internacional. Assim como defendemos a saída da Rússia de um país livre e soberano, defendemos desde o primeiro momento.
"Depois de 30 mil mortes e uma devastação na Faixa de Gaza que vai exigir décadas de reconstrução para voltar aos níveis de crescimento econômico e de bem estar anteriores ao ataque, níveis que por si só já eram paupérrimos, nós temos dúvidas razoáveis de que Israel esteja cumprindo com o direito internacional humanitário", disse Sanchez.
O primeiro-ministro da Espanha também ressaltou sua posição pela criação de um Estado palestino como uma das medidas necessárias para um acordo de paz na região. "Passa sem dúvida pelo reconhecimento dos dois estados pela comunidade internacional, o mundo árabe reconhecendo Israel e o mundo ocidental reconhecendo uma realidade que existe, que é a do Estado palestino".
Regulamentação de trabalhadores de aplicativos
Lula apontou a cooperação entre Brasil e Espanha também na elaboração de medidas para a proteção dos trabalhadores e disse que a experiência do país europeu inspirou o projeto de Lei que regulamenta o trabalho por aplicativos no Brasil, enviado na segunda-feira (4) pelo Planalto ao Congresso Nacional.
“A competitividade que buscamos não pode resultar da redução da renda das famílias, da diminuição do emprego formal, da restrição às liberdades dos trabalhadores ou do desmonte das políticas sociais.”, defendeu Lula.
Acordo Mercosul - UE
Em seu discurso, o Pedro Sanchez destacou a liderança do Brasil para o avanço do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. “É uma iniciativa que reforça os nossos vínculos comerciais e de investimento e também contribui claramente com benefícios sociais, laborais e de meio ambiente."
“América Latina e União Europeia somos aliados naturais e o Brasil e a Espanha estão convidados a impulsionar essa aliança, por isso estou determinado a continuar construindo esses compromissos alcançados na Cúpula da União Europeia - Celac no ano passado.”
Lula respondeu o aceno, lamentou que o acordo não tenha sido assinado quando ele presidia o Mercosul e Sanchez estava à frente do bloco europeu e afirmou: “ainda vamos assinar esse acordo”.
"A União Europeia precisa desse acordo. O Brasil precisa desse acordo. Não é mais uma questão de querer ou não querer, de gostar ou não gostar. Precisamos politicamente, economicamente e geograficamente fazer esse acordo, precisamos dar um sinal para o mundo de que queremos andar para frente. Por isso estou otimista", disse o presidente brasileiro.
Edição: Rodrigo Durão Coelho