NÃO FICOU CHORANDO

Em referência a Bolsonaro, Lula diz que perdedor de pleito venezuelano deve aceitar resultado

O brasileiro disse que o cronograma está definido e que não se pode “jogar dúvidas antes das eleições acontecerem”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em discurso ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o brasileiro afirmou esperar que as eleições sejam “as mais democráticas possíveis” - EVARISTO SA / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu nesta quarta-feira (6) que os candidatos nas eleições presidenciais da Venezuela não tenham o mesmo comportamento do brasileiro derrotado no último pleito. Em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o chefe do Executivo disse que há candidatos brasileiros que perderam e “não aceitaram o resultado”.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou nesta terça que as eleições presidenciais do país serão realizadas em 28 de julho. A data foi escolhida depois de uma mesa de diálogo promovida pela Assembleia Nacional do país que reuniu especialistas, políticos de diferentes partidos e representantes de vários setores da sociedade, incluindo da oposição. 

Lula comemorou a definição de uma data. Em discurso em Brasília ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o brasileiro afirmou esperar que as eleições sejam “as mais democráticas possíveis”. Lula se encontrou na semana passada com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em São Vicente e Granadinas depois da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Segundo ele, Maduro afirmou no encontro que vai convocar “todos os olheiros do mundo” para acompanhar o pleito.

Lula disse que o cronograma está definido e que não se pode “jogar dúvidas antes das eleições acontecerem”. Ainda de acordo com ele, “temos que garantir a presunção de inocência”. O presidente também disse que a realização de “eleições democráticas” são importantes para a própria Venezuela.  

“A Venezuela precisa de uma eleição democrática para poder reconquistar o espaço de participação cidadã nos fóruns mundiais e que a gente possa ver o fim do bloqueio americano na Venezuela”, disse. 

::O que está acontecendo na Venezuela?::

A ex-deputada venezuelana María Corina Machado, o principal nome para ser candidata da direita no pleito, foi sancionada pela Controladoria-Geral da República (CGR) com uma inabilitação para assumir cargos públicos por conta de inconsistências em sua prestação de contas enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011- 2014). A CGR confirmou em junho de 2023 que Machado está inabilitada por 15 anos.

O brasileiro comparou a situação da oposição venezuelana com o pleito de 2018, quando ele foi impedido de participar e o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disputou a presidência pelo PT. Lula disse que “não fiquei chorando e escolhi outro candidato para disputar as eleições” daquele ano.  

Horas depois, María Corina Machado respondeu a Lula nas redes sociais. Em seu perfil no X, a venezuelana atacou Maduro, disse que o brasileiro não a conhecia e que estava lutando pelo direito de milhões de venezuelanos que votaram na ex-deputada nas primárias. 

“Eu chorando, Lula? Você diz isso por que sou mulher? Você está validando os atropelos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados que você diz apoiar. A única verdade é que Maduro tem medo de me enfrentar porque sabe que o povo venezuelano está comigo nas ruas hoje”, publicou Machado.

Essa é a segunda vez que o brasileiro faz relação entre a situação de candidatos venezuelanos e brasileiros. Em junho de 2023, Lula comparou a oposição venezuelana de direita a Bolsonaro e disse que "as pessoas precisam aprender a aceitar o resultado das eleições".

Lula também lembrou a formação do Grupo de Amigos da Venezuela em 2003, criado para ser uma instância fomentadora de diálogo entre governo e oposição da Venezuela. Ele disse ter colocado dois países "considerados inimigos" neste grupo: Espanha e Estados Unidos. De acordo com Lula, o então presidente de Cuba, Fidel Castro, cobrou essa participação, e o brasileiro disse ter respondido que estava construindo uma participação para ajudar a Venezuela.

Cronograma definido

O documento proposto pela mesa de diálogo formada pela Assembleia Nacional tinha 27 possíveis datas para as eleições de 2024 e foi assinado por 152 pessoas. O texto foi entregue ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na última sexta-feira (1). A mesa de diálogos foi aberta em 5 de fevereiro e durou 23 dias.

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, disse que a data “cumpre o que foi estabelecido na Constituição da República Bolivariana de Venezuela, a normativa legal e todo o processo de estudos realizados pelo CNE”.

O prazo de registro para os candidatos será de 18 de março a 16 de abril e a campanha eleitoral será de 4 a 25 de julho.

A data escolhida segue o que foi proposto no acordo de Barbados, documento assinado entre o governo e parte da oposição em outubro de 2023. O texto definia que o pleito deveria ser realizado no segundo semestre de 2024 e contaria com missões de observação da União Europeia, do Centro Carter e da Organização das Nações Unidas (ONU).
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho