A contragosto de ambientalistas, 63 árvores serão derrubadas em Belo Horizonte para realização de uma etapa da corrida Stock Car, prevista para agosto deste ano. A decisão foi tomada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), vinculado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), por dez votos a dois.
Na reunião, realizada na quarta-feira (21), mais de 100 pessoas manifestaram-se contra a derrubada das árvores. É o caso de Antônio Pomar, idealizador do Projeto Pomar BH, que aponta vários possíveis danos à cidade.
Além dos prejuízos relacionados ao meio ambiente, ele cita que a corrida será realizada a 60 metros do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com 120 decibéis de altura, a poluição sonora, segundo ele, pode ocasionar problemas e até morte para os animais com audição apurada.
"Esse dano vai para os animais, para as casas de idosos, para pessoas no transtorno do espectro do autismo", reitera o ambientalista.
Na avaliação de Jeanine Oliveira, integrante do Projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais, é importante que as pessoas continuem mobilizadas, para que seja possível, com a opinião pública, trazer o assunto à tona, comover a população da cidade e alertar sobre os impactos.
"Acreditamos que o Ministério Público deve estar presente nessa discussão e tomar medidas possíveis e cabíveis, mas a própria sociedade pode procurar vias jurídicas outras. Possibilidade ainda existe", chama a atenção.
Ela também acredita que o COMAM precisa abrir um espaço maior para instituições que, de fato, defendam o meio ambiente.
Mudança de local
Segundo a SMMA, o projeto prevê, além da supressão de árvores, a remoção de canteiros centrais, passeios, passagens elevadas de pedestres, ilhas de semáforos e postes, além do alargamento de via e construção de muros e defensas permanentes na avenida Carlos Luz.
Pomar observa que uma das questões debatidas foi a solicitação de um estudo para que a etapa da corrida fosse realizada em outro espaço. Foi sugerido então que a Stock Car ocupasse os arredores da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas.
"Se olhar por cima, pela imagem do Google, é possível ver que ali dá certinho para fazer uma prova e não vai ter que gastar muito dinheiro público e tirar essa prova do Mineirão", pondera.
Segundo a SMMA, não foram apresentadas justificativas para a escolha do local de realização do evento, nem argumentos para a transferência de local, onde a supressão de vegetação não fosse necessária.
O estudo técnico da SMMA
Na contramão da decisão tomada pelo COMAM, a SMMA assinou parecer no dia 31 de janeiro deste ano em que citava uma série de problemáticas relacionadas à realização da Stock Car na cidade e recomendava que fosse emitido um licenciamento ambiental.
A equipe técnica avalia, por exemplo, que a derrubada de árvores inclui espécimes nativas, como pau ferro, ipê-rosa , ipê-roxo, alecrim de campinas, oiti, saboneteira, macaúba, munguba, paineira e ipê amarelo; e exóticas, como ipê rosado, flamboyant e a tipuana, causando grande impacto ambiental.
"Toda supressão arbórea causa impacto ambiental negativo, uma vez que arborização urbana gera vários benefícios, dentre eles: melhoria na permeabilidade do solo, diminuindo o escoamento superficial; conforto térmico e luminoso aos seres vivos ao proporcionar sombra, filtrando os raios solares e diminuindo os efeitos provocados pelo excesso de radiação solar; proteção contra ventos e ruídos; diminuição da poluição atmosférica, retendo particulados em suspensão do ar, além de sequestrar e armazenar carbono, um dos gases de efeito estufa", aponta o documento.
O estudo ainda cita o valor paisagístico das árvores, a amenização do efeito das ilhas de calor, com diminuição da temperatura e elevação da umidade do ar, e as consequências diante das mudanças climáticas.
"Se existe esse 'calor infernal' que estamos passando, essas tempestades desenfreadas, com vários desastres, isso está relacionado ao corte das árvores em todos os lugares", completa Pomar.
Outro lado
O Brasil de Fato MG entrou em contato com o COMAM para comentar as denúncias, mas até o momento da publicação desta reportagem, não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Leonardo Fernandes