Comida saudável

'Se o povo pobre não planta e não colhe, ninguém come', diz padre Júlio em inauguração do Sacolão Popular do MST

Parceiro do movimento na iniciativa, o padre esteve ao lado do ministro Paulo Teixeira no lançamento do novo espaço

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Padre Júlio Lancelotti abençoa os alimentos na inauguração do Sacolão Popular do MST - Lucas Weber

"São Pedro de Betancur caminhava com uma sacolinha, onde ele levava pão e alimentos. E também um sininho, que ia tocando pela estrada para que o povo fosse até ele encontrar alimento." Na inauguração do Sacolão Popular Irmão Pedro Betancur, resultado de uma união do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com a Pastoral do Povo de Rua, o padre Júlio Lancellotti fez questão de explicar a referência da homenagem no nome.

Ao lado do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o religioso lembrou que Pedro Betancur "foi um santo leigo, terciário franciscano latino-americano, de um povo sofrido".


Primeira entrega de alimentos fornecidos pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para atendimento à cozinha solidária de São Paulo. Um projeto do MST com o padre Julio Lancellotti / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Enquanto Lancellotti falava, uma fila se formava próximo ao palco para a retirada das refeições servidas no "baquetaço" promovido pelo MST. A atividade fez parte da inauguração do Sacolão Popular, que segundo o movimento sem-terra, terá, mensalmente, ações com a população em situação de rua.

As refeições são frutos de doações de assentamentos do MST e também do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Neste sábado, foram entregues 1.322 kg de alimentos, como banana, feijão, mandioca, entre outros, produzidos por agricultores e agricultoras familiares da Cooperativa Mista de Produção Comercialização e Serviços da Terra Ltda.

Paulo Teixeira reconheceu a iniciativa do MST conjunta com Lancellotti. "Toda nossa solidariedade ao senhor [padre Lancellotti] e que o senhor continue com esse trabalho santo que você faz aqui com os moradores de rua da cidade de São Paulo", disse.

O ministro também se comprometeu em apoiar o projeto. "Que essa iniciativa [Sacolão Popular] possa prosseguir e se multiplicar pela cidade de São Paulo e todas do Brasil. Quero dizer que nós vamos apoiar essa iniciativa do Sacolão Popular para fazer esse programa de trazer os produtos da reforma ágrária, da melhor qualidade, para o povo brasileiro."

"A ideia original é nós fazermos dezenas de espaços como este, principalmente, em lugares mais distantes do centro da cidade de São Paulo e também do interior. Para vincular a produção dos assentamentos, pequenos agricultores, quilombolas, indígenas com o combate à fome, a miséria e a desnutrição", explica Gilmar Mauro, membro da coordenação nacional do MST.

No evento de inauguração, estiveram presentes também Silvio Porto, presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e parlamentares, como os deputados federais Nilto Tatto e Juliana Cardoso e do estadual Eduardo Suplicy, todos do PT de São Paulo.

Lilian Rahal, secretária de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), afirma que "é um desafio grande que o MST está colocando, correndo na nossa frente, criando uma iniciativa de doação e venda de alimentos a preço popular para quem não possa comprar em outros lugares. O MST  tá fazendo a gente enxergar isso".

O Sacolão Popular já vai funcionar normalmente a partir da segunda-feira (26). Ele está localizado na rua Siqueira Cardoso, 297, no Belenzinho.

Irmão Pedro Betancour

O sacolão homenageia um missionário nascido nas Ilhas Canárias, território espanhol, que foi fundador da primeira ordem religiosa das américas e dedicou a vida à atenção às pessoas mais pobres no século 17. Pedro Betancour criou um projeto de saúde e educação para o povo da região da Guatemala, na época sob domínio colonial espanhol. Ofereceu educação gratuita a crianças e adultos, sem distinção de origem ou cor da pele. Foi reconhecido mais tarde como santo pela igreja católica.

Edição: Nicolau Soares