O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a “extrema direita racista e xenófoba” mundial e defendeu uma aproximação do Brasil e do mundo com a África em discurso neste sábado (17). Lula falou a líderes africanos como convidado na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia.
Lula abriu seu discurso pedindo mudanças no sistema de governança global. Disse que a “multipolaridade é um componente inexorável do século XXI” e que o “Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises do planeta”.
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“A alternativa às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba. O desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”, acrescentou.
Segundo Lula, é preciso resgatar as melhores tradições humanísticas no mundo. Ao falar disso, criticou os ataques de Israel contra a Palestina, assim como as ações do Hamas contra civis israelenses.
“Ser humanista implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população”, afirmou.
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Lula defendeu a criação de uma estado Palestino livre e soberano. Que esse estado tenha representação plena na Organização das Nações Unidas (ONU) e que a própria ONU tenha seu Conselho de Segurança redesenhado, com participação permanente de países da África e da América Latina.
“Há dois anos a guerra na Ucrânia escancara a paralisia do Conselho”, disse Lula. “Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia”.
Ao falar do Brasil, Lula citou a relação histórica com a África. Lembrou que mais da metade dos 200 milhões de brasileiros têm ascendência africana. Disse que o Brasil quer estreitar seus laços com o continente.
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“Com seus 1 bilhão e 500 milhões de habitantes, e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro. O Brasil quer crescer junto com a África, mas sem ditar caminhos a ninguém”, afirmou.
Lula disse que quer ampliar parcerias educacionais com países africanos, a colaboração para produção de alimentos e estender parcerias na saúde.
“Com a recuperação de áreas degradadas, podemos criar um verdadeiro cinturão verde de proteção das florestas do Sul Global”, disse. “É inadmissível que um mundo capaz de gerar riquezas de 100 trilhões de dólares por ano conviva com a fome de 735 milhões de pessoas”.
Lula disse que boa que cerca de 60 países, muitos deles na África, estão próximos da insolvência e destinam mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para a educação ou a saúde. Para ele, isso reflete o caráter obsoleto do FMI e do Banco Mundial. “Essas instituições não ajudam mais. Pelo contrário. Sufocam os países”.
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Ele disse que isso precisa ser rediscutido. Reiterou a importância da participação de países africanos em discussões no G20, no Rio de Janeiro, e na COP 30, em Belém.
“Tudo que o Brasil tem eu quero compartilhar com os países africanos, porque nós temos uma dívida histórica de mais de 300 anos de escravidão. A única forma de pagar é com solidariedade e amor”, disse, ao encerrar.
A participação de Lula na Cúpula Africana fez parte da agenda do presidente em sua segunda viagem oficial ao continente do seu novo mandato. Lula já passou pelo Egito antes de chegar à Etiópia.
Na viagem, Lula buscou ampliar relações com o Egito, país que foi chave em negociações para a saída de brasileiros que estavam na Faixa de Gaza em meio ao conflito na região.
Em sua passagem pela África, Lula ainda encontrou-se com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.
Edição: Raquel Setz