O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, enfrenta um campo minado na política colombiana. É o que diz a professora de ciência política da Universidade Nacional da Colômbia Doris Gómez Osorio. Segundo ela, o ex-presidente de direita Iván Duque, antecessor de Petro, teria premeditado o cenário preenchendo as principais instituições de fiscalização com aliados políticos.
Ao Brasil de Fato, a especialista afirma que o enfrentamento entre o Executivo e o Ministério Público, personificado nas figuras de Petro e do procurador-geral da República, Francisco Barbosa, faz parte desse contexto.
“Quando Petro assume, a controladoria e a procuradoria estão ocupados por pessoas de linhas políticas diferentes e passam a investigar o presidente. Foi uma ação premeditada de Duque. Há claramente um cenário de disputa entre o que representa o projeto político de Petro com a oposição, que tem controle sobre esses organismos”, afirmou.
Petro e Barbosa travam uma batalha política que ganha contornos eleitorais na Colômbia. Nas últimas duas semanas a temperatura subiu entre os poderes e posicionou em campos opostos os dois atores que ganham cada vez mais antagonismos para o pleito de 2026.
Mas as diferenças políticas entre os dois são antigas. O procurador é amigo de Iván Duque há mais de 20 anos, quando se conheceram no curso de Direito. Eles fazem parte do mesmo grupo político, de oposição ao governo de Petro. O procurador-geral foi conselheiro presidencial para os Direitos Humanos e Assuntos Internacionais de 2018 a 2020 no governo de Duque e foi indicado por ele para chefiar o MP.
Já Petro assumiu a Presidência em 2022 e conduz a primeira gestão de um presidente de esquerda na Colômbia. Liderando o Pacto Histórico, ele implementou medidas progressistas e encabeça o projeto de Paz Total, que se tornou uma política de Estado a partir da aprovação da lei 418.
Desde então, o Executivo tem enfrentado uma série de acusações do MP. Investigações contra a Federação Colombiana de Educadores (Fecode) e a suspensão do ministro das Relações Exteriores, Álvaro Leyva, foram as últimas disputas que ainda estão sendo travadas e o estopim para protestos.
Manifestantes foram às ruas nesta quinta-feira (8) convocados por Petro para demonstrar apoio ao chefe do Executivo, pedir agilidade na escolha do novo procurador e protestar contra a politização do MP. Os atos ocuparam as ruas de Bogotá, Medellín, Cali e outras cidades colombianas.
Segundo Doris Gómez Osorio, as marchas são uma tentativa de Petro de demonstrar força, apoio de diferentes setores como sindicatos, professores e estudantes e busca colocar no horizonte uma disputa eleitoral.
“Temos que considerar que ele também é pré-candidato presidencial. Por isso, também tem um caráter de se manter na frente na disputa contra opositores que pretendem ir às urnas. Ele já falou da necessidade de uma reeleição para seu projeto político”, disse a professora.
Perguntado, Barbosa foge na resposta e não diz se será candidato de forma clara, mas deixa o cenário aberto. “Não penso em nada diferente de terminar o meu mandato como procurador”, disse em entrevista à rádio Blu em janeiro, mas enfatizou: “do jeito que a Colômbia está, vai de mal a pior. Este país não pode aguentar mais anos nestas condições”.
Aparições em programas de televisão e rádio também contam para o jogo que Barbosa coloca na disputa com Petro. Para a professora Osorio, o que Petro faz nesse campo é estar ativo nas redes sociais para responder.
“A grande imprensa é muito próxima a Barbosa. É um personagem que tem comunicação direta com os grandes veículos na Colômbia. As redes são uma forma de resposta rápida de Petro, mas se transformam em uma plataforma com muitos riscos, porque toda hora tem declarações sem fundamento e que confundem a opinião pública”, disse Osorio.
A professora faz referência a uma publicação em uma conta falsa do procurador-geral Francisco Barbosa, que afirmava abrir investigação contra Ricardo Roa, presidente da empresa petrolífera colombiana Ecopetrol. Petro respondeu e disse que o MP busca um “golpe de Estado”. Em nota, o MP disse que o procurador-geral não tem nenhuma conta em redes sociais.
Novo procurador aprofunda crise
As manifestações também colocam em foco a escolha de um novo procurador-geral. O mandato de Francisco Barbosa termina em 12 de fevereiro. A Corte Suprema de Justiça realizou nesta quinta-feira a segunda sessão para tentar fechar consenso sobre o nome para assumir o cargo em um processo que se arrasta há cinco meses. No entanto, os magistrados não chegaram a um consenso.
Com isso, a atual vice-procuradora, Marta Mancera, deve assumir o cargo. Ela é próxima a Barbosa e foi investigada por supostamente proteger funcionários corruptos que trabalhavam no distrito de Buenaventura.
Petro apresentou a sua lista tríplice à Corte em agosto. Para ser empossado, o novo chefe do MP precisa receber ao menos 16 votos dos 23 magistrados que compõem a Corte. A primeira votação se alongou e terminou só em 25 de janeiro. Os ministros não chegaram a um consenso sobre o novo nome porque 13 votaram em branco.
Para a professora Doris, o governo tem elementos para afirmar que a demora na escolha de um novo procurador é o movimento de uma peça no xadrez político colombiano. “Se olhamos a composição da Corte e a maneira como foi conduzida a discussão, há elementos para dizermos que neste caso há uma questão política que foge ao regimento procedimental. Isso pode nos levar a uma confrontação”, disse a professora.
Edição: Lucas Estanislau