VIOLÊNCIA NO EQUADOR

Promotor que investigava invasão a canal de TV é assassinado no Equador

Dois suspeitos já foram presos; em meio a buscas, forças de segurança invadem presídios e humilham detentos

Brasil de Fato | São Paulo |
Policiais e testemunhas observam a cena do crime: promotor abdicou do direito de escolta policial, segundo as autoridades - Stringer/AFP

A onda de violência que assola o Equador tirou a vida do promotor que investigava a violenta invasão a um canal de televisão ocorrida na semana passada, quando jornalistas foram rendidos em rede nacional por homens encapuzados e armados. César Suárez Pilay foi assassinado nesta quarta-feira (17). Desde então, dois suspeitos foram detidos, um grupo criminoso foi apontado como possível mandante do crime e uma informação importante veio à tona: a vítima teria dispensado a escolta policial a que tinha direito.

Suárez, que fazia parte de uma unidade especializada em crime organizado e investigava também vários casos de corrupção, foi alvejado por volta das 14h (hora local) em uma avenida no norte da cidade de Guayaquil, conforme informou a Procuradoria-Geral do Estado (FGE, na sigla em espanhol) que investiga o crime. O promotor dirigia seu carro quando começou a ser perseguido por outro veículo com três ocupantes: um motorista e dois homens armados. Recebeu 18 tiros, sendo 12 de uma arma de fogo longa e seis de uma arma curta, detalhou a polícia.

Ao longo desta quinta-feira (18), a polícia fez alguns comunicados, anunciando a captura de dois suspeitos, com os quais foram apreendidos um fuzil, duas pistolas e dois veículos, além de vários trajes que simulavam uniformes das forças de segurança. As autoridades também afirmaram que trabalham com a hipótese de que o crime tenha sido cometido pelo grupo Chone Killer, uma das organizações identificadas pelo governo na semana passada como terroristas.

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Na ocasião, o presidente Daniel Noboa assinou decretos que restringem liberdades individuais e classificam determinados criminosos como terroristas, para lidar com uma nova onda de violência que se seguiu à fuga do presidiário Adolfo Macías Villamar, conhecido como "Fito", líder do grupo criminoso Los Choneros. Policiais foram atacados e carcereiros foram feitos reféns numa série de rebeliões em presídios.

Desde então, policiais e militares têm vasculhado o país em busca de armas, drogas e explosivos. Nesta quinta-feira, centenas de agentes de segurança invadiram uma prisão em Quito e outra em Guayaquil, a mesma de onde "Fito" havia fugido. Segundo relatos de agências de notícias, tanques e esquadrões fortemente armados cercaram a penitenciária. As Forças Armadas divulgaram imagens de prisioneiros com roupas íntimas, ajoelhados e com as mãos amarradas, deitados de bruços em um pátio e também cantando o hino, enquanto a bandeira nacional é hasteada.

"A motivação [para o assassinato de Pilay] ainda está sob investigação", disse em coletiva de imprensa o policial Víctor Herrera, comandante da Polícia da Zona 8, que destacou que a polícia espera prender outros dois mercenários que teriam participado do crime. O veículo usado no assassinato teria sido incendiado.

A segurança do promotor

Segundo a FGE, o promotor assassinado estava sem escolta no momento do assassinato porque abriu mão dessa prerrogativa, voluntariamente.

Por meio de nota, o órgão informou que a segurança de Suárez costumava ficar a cargo da Direção Geral de Inteligência da Polícia Nacional, dado o tipo de causas que ele investigava. No entanto, atualmente sua proteção estava a cargo das "unidades policiais de cada caso que investigava, devido à complexidade dos processos". Na manhã de quarta-feira, Suárez "informou que sua audiência seria virtual", razão pela qual "não precisaria de acompanhamento da escolta que costumava se encarregar de sua custódia".

A procuradora-geral, Diana Salazar, declarou: "É impossível não se abalar com a morte de um colega na luta contra o crime organizado. Continuaremos firmes em seu nome: por ele, pelo país, pela justiça. Obrigado pelo seu trabalho, César. Descanse em paz. Minha solidariedade à sua família e amigos".

Colômbia e Equador: repatriação de presos

No último dia 9 de janeiro, quando declarou estado de conflito armado interno em nível nacional e ordenou às forças militares a neutralização de grupos criminosos, o governo equatoriano disse que estudava deportar prisioneiros de outras nacionalidades, como colombianos. Nesta quarta-feira (17), a Colômbia se manifestou sobre o tema e disse que os dois países estão conversando sobre um mecanismo de colaboração judicial que permita a repatriação de presos colombianos, informou o presidente Gustavo Petro no Fórum Econômico Mundial, em Davos.

“Estamos conversando, construindo um caminho que permita, sem cair em erros piores do que já foram cometidos, uma construção de colaboração judicial entre os países”, disse.

Os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores da Colômbia manifestaram há uma semana que o país está disposto a ativar o trâmite de repatriação de cidadãos colombianos privados de liberdade no Equador, por meio de um convênio assinado entre os dois países em 1990. No entanto, alertaram que é preciso estudar caso a caso as solicitações, pois se trata de um processo individual que responde a critérios objetivos e deve contar com o consentimento da pessoa privada de liberdade.

Com informações de El Universal, France 24 e Primicias.

Edição: Lucas Estanislau