O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta-feira (28) o início de exercícios militares das Forças Armadas do país em reposta ao envio de um navio de guerra do Reino Unido à Guiana.
As ações ocorrem em meio a uma escalada de tensão entre Caracas e Georgetown pelo território fronteiriço do Essequibo, que possui 160 mil km² e é rico em petróleo.
"Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana no Caribe Oriental da Venezuela, na fachada atlântica, uma ação conjunta de natureza defensiva e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania do nosso país", disse o mandatário reunido com oficiais do Exército.
Em transmissão ao vivo pela TV estatal, Maduro conversou com o almirante Neil Jesús Villamizar Sánchez, que comanda os exercícios. O militar confirmou que as ações acontecem no Golfo de Paria e no Delta do Rio Orinoco, ambas regiões costeiras que estão na saída venezuelana para o Oceano Atlântico.
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O almirante Sánchez ainda confirmou a participação da Marinha, Aeronáutica, Exército e Milícias Bolivarianas, além de armamentos e veículos de combate anfíbios, caças F16, navios e lanchas para lançamento de mísseis.
Rompimento dos acordos
Maduro classificou o ato britânico como "uma ameaça militar de Londres" contra a Venezuela e disse que ele significa a ruptura dos acordos assinados entre Venezuela e Guiana em São Vicente e Granadinas no dia 14 de dezembro. Os chamados "Acordos de Argyle" previam a não utilização da força e a continuidade dos diálogos para resolver a controvérsia do Essequibo.
"Conversamos com chanceleres, primeiros-ministros, por aqui, por ali, todos exigimos que a Guiana parasse a chegada desse barco ameaçador e, de maneira privada, a Guiana ratificou que vai receber esse barco ameaçador do decadente ex-império britânico. Nós fomos muito claros, a Venezuela respeita os acordos de Argyle, mas não podemos ficar de braços cruzados frente a uma ameaça, venha de onde venha", disse.
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O presidente afirmou que está trabalhando pelas vias diplomáticas desde que soube do anúncio do envio do navio britânico, no último domingo (24).
"Estivemos trabalhando com todos os mecanismos do acordo de Argyle, assinado em São Vicente e Granadinas, onde se rechaçou a presença de forças militares extra-regionais ou de potências no Caribe e se chegou a um acordo para avançar com a reivindicação histórica da Venezuela pelo Essequibo", disse.
Horas antes, o governo venezuelano já havia condenado a atitude de Londres dizendo que ela viola os acordos assinados em São Vicente e que "vem sincronizada com ações do Comando Sul dos Estados Unidos, o que se converte sob todas as luzes em uma ameaça direta à paz e à estabilidade da região".
Navio de guerra britânico
O anúncio do deslocamento do navio HMS Trent da Marinha britânica à Guiana foi feito pelo Ministério da Defesa do Reino Unido no último domingo (24).
"O HMS Trent vai partir neste mês para a Guiana, nossa aliada regional e parceira do Commonwealth, em uma série de compromissos na região", afirmou a pasta.
Segundo a emissora britânica BBC, o navio conta com uma tripulação que pode chegar a 45 pessoas e normalmente opera no Mar Mediterrâneo. Ele deve participar de exercícios militares conjuntos que estão programados para após o Natal, disse a agência.
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Essa é a segunda potência militar que se envolve na disputa pelo Essequibo do lado da Guiana. Pelo menos desde setembro, o Comando Sul dos EUA está realizando exercícios militares conjuntos com tropas guianesas no território fronteiriço com a Venezuela.
A Guiana acusa Caracas de "expansionismo" e diz que protegerá o Essequibo como "parte de seu território". O país também busca defender concessões petroleiras entregues à empresa estadunidense Exxon Mobil para a exploração de reservas na costa do enclave estimadas em 11 bilhões de barris.
Edição: Geisa Marques