A taxa de mortes violentas intencionais na região da Amazônia Legal em 2022 foi 45% superior à registrada nas demais regiões do país. É o que revela a pesquisa Cartografias da Violência na Amazônia, divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O documento traz dados que escancaram a alta da violência na região.
Enquanto na média do país foram registradas 23,3 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes, na Amazônia esse índice sobe para 33,8 a cada 100 mil. Segundo o estudo, 57,9% dos habitantes amazônicos vivem hoje sob o jugo do grime organizado, e facções criminosas estão presentes em pelo menos 178 cidades.
O levantamento mostra que as taxas de feminicídios e estupros na região amazônica são superiores em 30,8% e 33,8% (respectivamente) na comparação com a média do Brasil; que a taxa de homicídios de indígenas na região é 26% maior que no restante do país; e que a população carcerária na área tem subido mais rapidamente que nas demais localidades brasileiras. Os dados na íntegra podem ser acessados aqui.
Esta, que é a segunda edição do documento, é mais robusta que a primeira, lançada em 2020, especialmente por trazer mais registros envolvendo crimes ambientais. E, nesse cenário, o garimpo, que ganhou força na região durante os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro (PL), se conecta diretamente com muitos dos casos de violência.
Em conversa com o Brasil de Fato, a pesquisadora Marina Bohnenberger, integrante da equipe responsável pela pesquisa, destacou que, além de outros crimes ambientais, como o desmatamento (fundamental para a atividade de mineração no território amazônico), o garimpo está entrelaçado a outras modalidades criminosas e, por consequência natural, episódios violentos na região amazônica.
"Tem um fenômeno de aproximação muito grande entre as atividades do garimpo e as atividades do narcotráfico. Isso é uma novidade, digamos assim, que emerge por causa da configuração específica da Amazônia, por ser uma rota estratégica muito importante para o tráfico de entorpecentes", apontou Bohnenberger.
Em algumas localidades, especialmente em Roraima e no Pará, foi identificado que o garimpo e o narcotráfico compartilham aviões e infraestruturas para pousos e decolagens, como pistas no meio da floresta. Com o avanço dos últimos anos, a atividade garimpeira se tornou mais especializada, mais mecanizada e mais perigosa, o que dificulta as ações de fiscalização e repressão.
Os números alarmantes de crimes violentos, inclusive, têm relação direta com a dificuldade de atuação policial na região amazônica. Além de ser um território muito extenso, oferece grande complexidade com uma infinidade de rios e grande cobertura florestal. O acesso a boa parte dos territórios só é feito pelo ar ou pela água, já que estradas são precárias ou simplesmente inexistem.
"Certamente, a dificuldade das capacidades institucionais na Amazônia é um grande desafio. Falta equipamento, falta gente, falta pensar a segurança de uma maneira que seja específica para aquele território e seja capaz de atender aquela particularidade, tanto das dinâmicas criminais tanto do que é particular do local e que é incontornável, uma área muito extensa, com florestas, com rios e tudo mais", complementou Bohnenberger.
Edição: Nicolau Soares