No sexto dia após a tempestade que deixou dois milhões de imóveis sem luz em São Paulo, a Enel não cumpre a promessa de religar totalmente o fornecimento de energia elétrica e protestos espontâneos acontecem em diferentes pontos da capital – fora do centro expandido – e região metropolitana. Segundo a empresa, 11 mil imóveis – entre residências, comércios e até escolas –seguem sem energia.
Em entrevista à Globonews nesta quarta-feira (8), o presidente da Enel, Max Lins, afirmou ser "impossível" prever quando será a restauração total da rede.
Questionada pelo Brasil de Fato, a empresa transnacional italiana que tem a concessão do serviço em São Paulo desde 2018, afirmou que "não tem como listar os bairros" que seguem sem luz. A maioria dos locais onde a população foi às ruas protestar, no entanto, são periféricos.
Na manhã desta quarta (8), moradores do Jardim Elba, na região de Sapopemba, na zona leste, se manifestaram na avenida Custódio de Sá e Faria. No fim da tarde de terça (7), dia no qual a Enel havia se comprometido a normalizar a situação e que terminou com 30 mil imóveis no escuro, protestos bloquearam ruas e rodovias nas zonas sul e oeste da Grande SP.
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Moradores dos bairros Vila Andrade e Jardim Colombo protestaram com uma barricada de fogo na avenida Giovanni Gronchi na noite de terça (7). O ato foi dispersado, mas uma nova interdição da via aconteceu logo depois, às 20h30, na altura da rua Clementine Brenne. Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), um policial militar foi atingido na perna por um tiro durante a manifestação.
Ainda na zona sul, um grupo de pessoas ocupou a av. Guarapiranga na noite de terça (7). Enquanto isso, em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, moradores e comerciantes da Vila Margarida fizeram um ato que bloqueou a rua Agudenses. Reivindicando o retorno imediato da luz, os manifestantes usaram pedaços de madeira e móveis velhos para bloquear a via.
Também na região metropolitana mas a 20 km dali, a rodovia Raposo Tavares foi interditada em um protesto próximo ao município de Cotia.
Os únicos dois protestos registrados em regiões de classe média e alta, respectivamente, foram feitos por moradores de condomínios do Jardim Ibitirama, na zona leste, e da Vila Leopoldina, na zona oeste.
Os primeiros se manifestaram na avenida do Estado, tentaram reter um caminhão com técnicos da Enel e chegaram a brigar sobre o possível pagamento de propina a um homem que se apresentou como funcionário da distribuidora.
O apagão em São Paulo aconteceu após um temporal com ventos acima de 100 km/h na última sexta-feira (3). Subiu para oito o número de pessoas que morreram em decorrência das chuvas.
Investigação
Nesta quarta-feira (8), quando bairros completaram 120 horas sem luz, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o motivo da demora, por parte da Enel, de reestabelecer o fornecimento de energia.
O Tribunal de Contas do Município de São Paulo também abriu um processo para apurar os impactos causados pelo apagão. Os conselheiros estabeleceram o prazo de 15 dias para que as instâncias governamentais informem os prejuízos e os gastos extraordinários.
Edição: Thalita Pires