Um estudo toxicológico internacional, multi-institucional e de longo prazo que acaba de ser apresentado em Bolonha, na Itália, constatou que "baixas doses de herbicidas à base de glifosato causam leucemia em ratos. É importante ressaltar que metade das mortes por leucemia identificadas nos grupos de estudo ocorreu em idade precoce", diz a declaração oficial que acompanha a apresentação.
Os dados, apresentados na quarta-feira (25), foram divulgados na conferência científica internacional "Meio Ambiente, Trabalho e Saúde no Século 21: Estratégias e Soluções para uma Crise Global", e fazem parte do Estudo Global sobre Glifosato (GGS na sigla em inglês).
No estudo apresentado, os pesquisadores administraram o glifosato sozinho e duas formulações comerciais - Roundup BioFlow (MON 52276) usado na União Europeia e Ranger Pro (EPA 524-517) usado nos Estados Unidos- a ratos por meio da água potável desde a vida pré-natal em doses de 0,5, 5 e 50 mg/kg de peso corporal/dia.
Daniele Mandrioli, coordenador do Estudo Global sobre Glifosato e diretor do Instituto Ramazzini, observou que "aproximadamente metade das mortes por leucemia observadas em ratos expostos ao glifosato e a herbicidas à base de glifosato ocorreu em menos de um ano de vida".
As descobertas questionam fortemente a base para permitir o uso do herbicida. Essas doses usadas no estudo são atualmente consideradas seguras pelas agências reguladoras e correspondem à Ingestão diária aceitável (IDA) e ao Nível de efeito adverso não observado (Noael) da União Europeia (UE) para o glifosato.
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Mandrioli anunciou que o estudo completo será publicado em breve e explicou o motivo. "Essas descobertas são de tal relevância para a saúde pública que decidimos que era vital apresentá-las agora, antes da publicação. Os dados completos serão disponibilizados ao público e enviados para publicação em uma revista científica nas próximas semanas."
O Estudo Global sobre Glifosato é o estudo toxicológico mais abrangente já realizado sobre essa substância e os herbicidas fabricados a partir dela. Ele examina os impactos do glifosato e dos herbicidas sobre a carcinogenicidade, a neurotoxicidade, os efeitos multigeracionais, a toxicidade de órgãos, a desregulação endócrina e a toxicidade do desenvolvimento pré-natal.
O GGS publicou anteriormente um estudo piloto que demonstrou toxicidade endócrina e reprodutiva em ratos com doses de glifosato atualmente consideradas seguras pelas agências reguladoras dos EUA (1,75 mg/kg de peso corporal/dia). Essas descobertas foram posteriormente confirmadas em uma população humana de mães e recém-nascidos expostos ao glifosato durante a gravidez.
As descobertas do GGS sobre a toxicidade do glifosato para o microbioma, que foram revisadas por pares e publicadas no final de 2022 e apresentadas ao Parlamento da UE em 2023, também mostraram efeitos adversos em doses atualmente consideradas seguras na UE (0,5 mg/kg de peso corporal/dia, equivalente à ingestão diária aceitável da UE).
O GGS é coordenado pelo Instituto Ramazzini da Itália e envolve cientistas da Europa, dos Estados Unidos e da América do Sul. As universidades americanas participantes incluem a Universidade de Boston, a Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, a Universidade George Mason e a Universidade da Califórnia. Outros participantes incluem a Universidade de Pádua (Itália), o King's College (Reino Unido), Copenhague (Dinamarca) e a Universidade Federal do Paraná (Brasil).
"Renovar a licença do glifosato é totalmente ilegal"
O glifosato foi classificado como provável carcinógeno humano em 2015 pela principal autoridade mundial em câncer, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar disso, a maioria das agências reguladoras, incluindo o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Agroalimentar da Argentina (Senasa), continuam a permitir o uso do perigoso herbicida.
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O avanço dos resultados do EGG ocorrem no contexto da renovação da permissão para o herbicida glifosato na União Europeia, que será definida nos próximos meses. Uma decisão que mantém a atenção de todos os estados membros da UE, mas também de toda a comunidade internacional que busca erradicar o perigoso herbicida apoiado no mercado pelas empresas agroquímicas mais importantes do mundo.
Assim que os dados do estudo se tornaram conhecidos, o toxicologista Peter Clausing, membro da Pesticide Action Network [Rede de Ação contra Pesticidas] (PAN), disse em uma declaração da PAN da Alemanha: "Esse estudo de alta qualidade precisa de toda a atenção das autoridades europeias, pois fornece novas evidências alarmantes que corroboram as descobertas anteriores sobre os efeitos carcinogênicos do glifosato no sistema linfático observados em estudos com ratos e em estudos epidemiológicos em humanos.
Angeliki Lysimachou, Diretora de Ciência e Política (PAN Europa) concluiu: "O estudo destaca que a renovação da licença do glifosato é mais do que questionável, é completamente ilegal. As autoridades da UE cometeram um grande erro ao concluir que o glifosato e sua formulação representativa são seguros. O passo certo agora é a UE retirar a atual proposta de reautorização e pressionar para que ela não seja renovada".