Enquanto Israel continua bombardeando o campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, na mais nova agressão de sua contraofensiva que já entrou na quarta semana, finalmente a fronteira com o Egito, ao sul, foi aberta para que pessoas comecem a deixar a zona de conflito.
Segundo fontes de segurança egípcias, um primeiro grupo de palestinos feridos cruzou a fronteira nesta quarta-feira (1), em ambulâncias, pela cidade de Rafah. Um acordo mediado pelo Catar entre Egito, Israel e o Hamas determina que um certo número de estrangeiros e pessoas seriamente feridas serão autorizadas a sair de Gaza.
Os 32 brasileiros que vivem na Cisjordânia e pediram para ser repatriados tomaram o rumo do Brasil nesta quarta (1). O grupo, contendo pessoas de 11 cidades do território palestino, foi reunido em Jericó e de lá seguiu para Amã, capital da Jordânia, onde foi embarcado numa aeronave da Presidência da República com destino à Base Aérea de Brasília. A chegada será por volta das 5h30 (horário local) desta quinta (2). Chega assim a 1.446 o número de passageiros trazidos de volta ao Brasil da zona de conflito, sendo 1.443 brasileiros e três bolivianas.
De acordo com o Itamaraty, cerca de 450 estrangeiros já estão autorizados a sair. São cidadãos da Austrália, Áustria, Bulgária, Finlândia, Indonésia, Jordânia, Japão, República Tcheca, profissionais da Cruz Vermelha e de ONGs.
Já o grupo de 34 brasileiros que pediram repatrição ainda aguarda autorização para cruzar a fronteira com o Egito, único caminho viável para eles entrarem num avião da Força Aérea Brasileira e partirem para o Brasil.
“Novas listas serão publicadas em breve e nossos brasileiros devem estar nelas”, afirmou o embaixador Alessandro Candeas, da representação brasileira em Ramala, na Cisjordânia, outro território palestino vizinho a Israel.
Novo ataque em Jabalia
Um dia após Israel atacar o campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, o local foi novamente alvejado nesta quarta. Não há confirmação independente sobre o ataque nem informações concretas sobre vítimas, talvez pelo fato de a Faixa de Gaza estar com novo blecaute de telefonia e internet devido a ataques à rede das operadoras locais, mas imagens mostram colunas de fumaça na região.
O chefe da sucursal da TV Al Jazeera em Gaza, Wael Dahdouh, afirma que vários prédios foram destruídos. Fotografias tiradas na terça mostram crateras largas no chão ao lado dos prédios. Segundo as Forças de Defesa de Israel, o objetivo é atingir a infraestrutura subterrânea do Hamas.
O ataque de terça deixou 50 mortos e 150 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Israel diz que, entre as vítimas fatais, há uma “grande quantidade de terroristas” de uma célula importante do Hamas. O grupo palestino, por sua vez, afirma que os mortos eram “mártires”, e que entre eles estão ao menos sete dos reféns sequestrados durante sua invasão a Israel no dia 7 de outubro.
Parecia um “terremoto”, relatou Ragheb Aqal, que vive no local. “Fui lá e vi a destruição”. Segundo ele, havia casas queimadas sob escombros, muitos “mártires” feridos e pedaços de corpos espalhados. Filmagens e fotos mostram centenas de pessoas procurando por vítimas nos escombros. “Estamos enchendo sacolas com crianças”, dizia um homem, aos prantos, enquanto segurava uma peça de roupa branca pequena ensanguentada.
“Crianças chegaram ao hospital com feridas profundas e queimaduras severas. Muitas gritavam e perguntavam por seus pais”, contou o enfermeiro Mohammed Hawajreh, do hospital Al-Shifa, segundo a organização Médicos sem Fronteiras.
AI acusa Israel de ataque com fósforo
A Anistia Internacional acusa Israel de ter usado munição de fósforo branco em áreas civis no sul do Líbano entre os dias 10 e 16 de outubro. A organização de direitos humanos, com base em vídeos, fotos e entrevistas, afirma que um dos ataques, na cidade de Dhayra, precisa ser investigado como crime de guerra por se tratar de um “ataque indiscriminado” que feriu ao menos nove civis e danificou infraestrutura civil.
Essa munição não é totalmente proibida. Costuma ser utilizada como iluminador em áreas de confronto e, por gerar uma fumaça espessa, ajuda a cobrir movimentos de tropas. Mas seu uso contra civis viola leis internacionais. O fósforo queima a pele, pode danificar órgãos e sufocar.
*Matéria atualizada às 12h50 para correção do número de brasileiros que embarcaram da Cisjordânia
Edição: Leandro Melito