Centenas de pessoas invadiram o aeroporto de Makhachkala, na república russa do Daguestão, na noite do último domingo (29) em um ataque contra passageiros que vinham de Tel Aviv. A invasão chegou até a pista de pouso e tinha como alvo cidadãos israelenses que estariam em um voo da companhia Red Wing. A empresa opera voos regulares de Israel ao Daguestão.
Os relatos apontam que os manifestantes chegaram ao aeroporto para atacar "refugiados de Israel". A invasão foi consequência da disseminação de informações pelo canal Telegram de que o avião de Tel Aviv pousaria na noite de domingo, que levou a uma aglomeração de pessoas na entrada do aeroporto em um ato anti-Israel em conexão com a escalada da violência do governo de Benjamin Netanyahu contra os palestinos na Faixa de Gaza. Em algum momento, parte dos manifestantes furou o bloqueio policial e invadiu a pista de pouso.
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Segundo o Ministério da Saúde do Daguestão, mais de 20 pessoas ficaram feridas durante os acontecimentos no aeroporto - tanto forças de segurança como civis: mais de dez sofreram ferimentos leves, dez foram levados a hospitais, dois ficaram em estado extremamente grave.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que a multidão que invadiu o aeroporto chegou a cercar o avião que chegava de Tel Aviv na pista de pouso e tentou ter acesso ao avião, sem sucesso.
Em um dos registros, divulgados pela jornalista Yulia Vityazeva no canal Telegram, é possível ver os primeiros passageiros que começaram a sair do avião, mas a tripulação da aeronave pediu que voltassem a bordo quando os manifestantes se aproximavam cercando a aeronave.
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"Este é o comandante falando. Por favor, permaneça sentado e não tente abrir as portas da aeronave. Há uma multidão furiosa na rua que não sabe de onde viemos nem porquê", diz a publicação.
Os manifestantes chegaram a verificar os documentos das pessoas que saíam do aeroporto. De acordo com um vídeo veiculado nas redes, em particular, um jovem que se dizia uzbeque foi confundido com um judeu – cerca de 20 pessoas o cercaram e se recusaram a devolver seu passaporte.
Nesta segunda-feira (30), autoridades russas informaram que o aeroporto de Makhachkala foi novamente aberto para operar em plena conformidade. A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia observou que os voos das companhias aéreas Azimuth e Red Wings de Tel Aviv para Mineralnye Vody e Makhachkala serão temporariamente desviados para outras cidades russas.
Já o serviço de imprensa do Ministério de Assuntos Internos da Rússia para o Norte do Cáucaso relatou que o aeroporto de Makhachkala "está totalmente sob o controle das agências de aplicação da lei". "Os motins foram reprimidos", enfatizou a polícia local, acrescentando que até à manhã desta segunda-feira (30), "mais de 150 participantes ativos nos motins" tinham sido identificados.
O chefe da república do Daguestão, Serguei Melikov, por sua vez, ao comentar os tumultos, declarou que "não haverá perdão para ninguém". "Foram feitas gravações de vídeo e fotográficas, por isso ninguém deve escapar à responsabilidade", disse aos jornalistas, acrescentando que "foram abertos processos criminais sobre uma série de fatos que se tornaram um precedente para os acontecimentos de ontem".
Ele atribuiu a organização dos tumultos no aeroporto a "inimigos" da república, sem especificar que seriam estes inimigos. “Já não é segredo para ninguém que as tentativas de desestabilizar a situação no Daguestão e criar um pano de fundo de protesto, incluindo a utilização de métodos proibidos associados ao incitamento ao ódio étnico e a problemas inter-religiosos, estão sendo levadas a cabo pelos nossos inimigos”, disse Melikov.
O presidente russo, Vladimir Putin, realizará nesta segunda-feira (30) uma reunião com os chefes das agências de aplicação da lei do país para discutir os acontecimentos no Dagestão. De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em particular, serão discutidas "as tentativas do Ocidente de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade".
"O presidente sempre prestou e continua prestando grande atenção a este tema. Só na semana passada realizou uma reunião detalhada com os líderes religiosos russos, onde este tema foi discutido", disse Peskov aos jornalistas.
Edição: Leandro Melito