No passado, a capital mineira já foi conhecida como “cidade jardim”, por suas extensas áreas verdes. Atualmente, em meio à crise climática, a realidade é outra. Matas, parques e serras de Belo Horizonte enfrentam interesses de grandes empreendimentos, em especial, do ramo imobiliário e da mineração, no caso da Serra do Curral.
A Mata do Jardim América, que fica na região Oeste e possui mais de 21 mil metros quadrados, também é um desses casos. Mesmo sendo considerada Área de Preservação Ambiental PA1 – a classificação de maior proteção –, a preservação da mata está sob constantes ameaças de construtoras.
Para Adriana Souza, que é ativista em defesa do meio ambiente, os avanços desses empreendimentos destroem a biodiversidade, colocam em risco nascentes e espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção. Ela alerta que, com as mudanças climáticas, a necessidade de preservação das áreas se tornou ainda mais urgente.
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“Essas áreas deveriam estar protegidas, ainda mais no período em que vivemos, no qual as mudanças climáticas têm avançado. Nós sofremos nas últimas semanas ondas de calor fortíssimas, por exemplo. Além disso, enchentes e outros eventos climáticos têm se tornado cada vez mais comuns. A ausência de áreas verdes está diretamente ligada a essa situação e ao avanço da desertificação”, explica Adriana.
Na região Norte do município, a luta em defesa da Mata do Planalto já dura 15 anos. Em 2021, as famílias conseguiram que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) publicasse um decreto, de número 17.775, desapropriando a mata e garantindo sua preservação integral.
Porém, Margareth Ferraz Trindade, que é jornalista e liderança do Movimento Salve a Mata do Planalto, destaca que, quase dois anos depois, a desapropriação ainda não aconteceu.
“Os moradores das regiões que possuem as últimas áreas verdes de BH vêm lutando há muitos anos pela preservação. No caso da Mata do Planalto, a luta já dura 15 anos. A desapropriação deveria ter sido colocada dentro do orçamento da prefeitura e efetivada neste ano. O que nós queremos é o cumprimento imediato do decreto”, enfatiza.
Com mais de 200 mil metros quadrados de vegetação típica da Mata Atlântica, a Mata do Planalto serve de abrigo para 40 nascentes e animais silvestres que vivem na cidade, como mais de 60 espécies de pássaros.
Conheça outras áreas ameaçadas em Belo Horizonte:
Mata do Mosteiro
No final de 2022, moradores do bairro Luxemburgo, onde fica a Mata do Mosteiro, que possui 11,7 mil metros quadrados, foram surpreendidos com a notícia de que os arredores da área receberiam a construção de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), da Construtora Katz. Eles temem os impactos socioambientais do empreendimento.
Mata da Izidora
A área da Mata da Izidora, que fica na região Norte da capital, equivale a 10 mil campos de futebol, possui aproximadamente 300 nascentes, mais de 60 córregos e uma rica diversidade de fauna e flora. A maior parte do terreno, que resiste ao avanço imobiliário, é classificado pelo município como Área de Preservação PA1, de maior nível de proteção. Para cuidar da mata, o Movimento Parque Izidora quer transformá-la em uma unidade de conservação.
Parque da Baleia
No início deste ano, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e a Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG) propuseram a redução de 80% da zona de amortecimento (ZA) do Parque Florestal Estadual (PFE) da Baleia, cuja criação foi proposta pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). O objetivo da Fiemg e da CMI era retirar da área de proteção a região do parque que faz parte da Serra do Curral.
Mata do Havaí
Na última semana, os moradores dos arredores da Mata do Havaí, na região Oeste, conquistaram uma importante vitória. A construtora Precon, interessada em construir um condomínio com quatro torres no local, desistiu da obra. Com 30 mil metros quadrados, a área abriga uma rica biodiversidade, com pelo menos oito nascentes, além de fauna e flora típicas do Cerrado e da Mata Atlântica.
Parque Lareira
Moradores dos bairros São João Batista e Candelária reivindicam a criação do Parque Lareira, no terreno de um antigo clube desativado, na região de Venda Nova. A área, que possui nascentes, vegetação e animais, convive há mais de dez anos com queimadas, supressão de árvores e um processo grave de degradação.
Parque linear
Na região do bairro Belvedere, moradores lutam pela regulamentação do Parque Linear. Em 2022, uma decisão da Justiça Federal retirou a área de um leilão organizado pelo governo federal. Próxima à Serra do Curral, a região é considerada estratégica para o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Desde o início de 2002, a população utiliza o lugar como um parque improvisado.
Por que preservar?
Além da preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, a preservação das áreas verdes traz um conjunto de outras vantagens para todo o município.
Adriana Souza, destaca o papel da vegetação para combater as ilhas de calor e a melhora da filtragem do ar, o que, entre outras causas, gera impacto positivo na saúde da população.
“São inúmeras as vantagens que ganhamos, como cidade e como sociedade, ao preservar as áreas verdes. Essas áreas verdes ajudam, por exemplo, a remover os poluentes do ar, e isso resulta em uma melhoria significativa na qualidade do ar que a gente respira, beneficiando a saúde da população. Além disso, temos a questão da redução das ilhas de calor”, defende.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa