Oriente Médio

Comitê palestino pede cessar-fogo imediato e boicote a Israel: 'genocídio tem apoio de indústrias'

Proposta de interrupção dos ataques foi feita pelo Brasil em 18 de outubro e recebeu 12 votos, mas foi vetada pelos EUA

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Explosão registrada durante bombardeiro israelense ao norte da Faixa de Gaza - Aris Messinis / AFP

A coalizão palestina que lidera o movimento global de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) cobrou nesta sexta-feira (27) um cessar-fogo imediato e o boicote a Israel pelos ataques contra a população civil em Gaza. “Israel ataca escolas, hospitais e mercados. Tudo em Gaza está sendo alvo, é um genocídio”, afirmou Saleh Hijazi, representante do Comitê Nacional Palestino do BDS em coletiva de imprensa. 

“Estamos aqui e vemos um genocídio perpetrado contra os palestinos devido ao apoio de uma série de indústrias e países ao longo do mundo. O mais urgente é o cessar-fogo, mas é preciso parar de armar esse país, a cumplicidade é o que permite que Israel continue praticando esses crimes.”

Após várias tentativas frustradas de cessar-fogo na região, o tema deve ser votado novamente pelo Conselho de Segurança da ONU nesta sexta. Na manhã de hoje, em declaração no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o poder de veto, garantido aos cinco países permanentes do conselho.

A proposta de cessar-fogo temporário apresentada pelo governo brasileiro no dia 18 de outubro recebeu 12 votos favoráveis, mas acabou rejeitada devido ao veto dos Estados Unidos.

“Foi rejeitada por causa de uma loucura, que é o direito de veto conseguido pelo país titular do Conselho de Segurança da ONU, que eu sou totalmente e radicalmente contra. Isso não é democrático", disse Lula.

O Conselho de Segurança da ONU é formado por 15 membros, mas apenas Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido têm assento permanente e, portanto, poder de veto. “São os cinco países do Conselho de Segurança que fabricam armas, que vendem armas e que fazem guerra. É a contradição [...] O que nós queremos é democratizar o Conselho da ONU porque, hoje, ele vale muito pouco”, afirmou o presidente. O Brasil hoje ocupa a presidência rotativa do conselho. 

Para a historiadora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, o Brasil, embora não tenha o poder de influenciar diretamente as decisões dos EUA e de Israel é um ator importante para influenciar o contexto geopolítico na região. 

“O Brasil tem uma voz de moderação, de paz, trabalhando por medidas consensuais através do multilateralismo.  A voz do Lula tem um peso internacional e isso traz responsabilidade: para onde o Brasil sinaliza?”

Apesar dos esforços do presidente Lula para a mediação de um acordo de paz na região, Clemesha aponta que o país dá sinais contraditórios a partir do momento em que setores políticos e econômicos estabelecem acordos militares, de troca de inteligência e segurança com Israel. 

“Os contratos militares do Brasil com Israel são um claro incentivo para o exército israelense. Pode ser um primeiro passo, para o Brasil começar a exercer sua influência internacional, juntar sua voz com a ação. Vai ser visto com um sinal muito importante para o mundo. O momento é muito grave, de muita urgência e a sanção é a única resposta pacífica, onde o Brasil pode ter uma liderança”.

Revogaço

No dia em que o governo brasileiro apresentou a proposta no Conselho de Segurança da ONU, o Congresso Nacional aprovou um acordo para cooperação em segurança pública, prevenção e combate ao crime organizado entre o governo brasileiro e o governo de Israel. 

O Projeto do Legislativo foi apresentado pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e prevê, entre outras medidas, o intercâmbio de “informações, expertise, conhecimento, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento científico de cada parte”.

A deputada federal Fernanda Melchionna (Psol/RS) defende uma mobilização pela revogação do projeto, junto com uma política de sanções contra Israel, em um contexto “muito grave, de urgência e mobilização pelo cessar-fogo”. 

“É uma sinalização gravíssima, no contexto de massacre que nós temos visto, a aprovação do PDL 554 que trata da indústria bélica, de tecnologias de guerra que estão sendo usadas contra o povo palestino”, afirma Melchionna . 

 

Edição: Patrícia de Matos