Aumentou a sensação de insegurança dentro das escolas de gestão compartilhada – escolas cívico-militares – do Distrito Federal entre os anos de 2019 para 2022. De acordo com a 2ª Pesquisa de Situação Escolar, elaborada pela Secretaria de Segurança Pública, a sensação de insegurança dentro dessas escolas subiu entre professores, estudantes e demais servidores das unidades de ensino.
De acordo com a pesquisa, em 2019 a sensação de insegurança era de 11,18% entre os professores, 10,2% entre os estudantes e 1,25% entre os demais servidores. Em 2022 esses números cresceram para 11,47% entre professores, 19,15% entre alunos e 3,45% entre os demais servidores. O aumento da sensação de insegurança foi de 3% entre professores, 88% entre estudantes e 176% entre os demais servidores.
Para a professora da Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Educação, Catarina de Almeida Santos, a militarização não contribui com a sensação de insegurança dentro das escolas, pois essa é uma política que coloca dentro das escolas profissionais que deveriam estar fazendo a segurança da sociedade.
"O fato importante da polícia é garantir a segurança fora da escola, na sociedade. Para que os alunos e alunas possam ir e vir da escola sem estar sob ameaça. Então, quando os agentes de seguranças cumprirem as suas funções, as escolas também podem estar sem o risco da violência", avalia a pedagoga.
Também aumentou de 17,48% para 25,5% o percentual de alunos que acreditam que as escolas ficaram piores com a gestão compartilhada e entre os próprios militares esse índice foi de 2,33% para 33% entre os anos de 2019 a 2022.
"A comunidade escolar, os alunos e até os militares estão percebendo que esse projeto de gestão compartilhada não é a solução dos problemas que permeiam o ambiente escolar", avalia a dirigente do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Márcia Gilda.
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De acordo com Catarina Almeida, a presença de policiais aumenta a violência dentro das escolas, uma vez que impõe uma lógica militarizada.
"Os problemas causados na educação, que é a questão da exclusão, de levar para dentro das escolas uma doutrina militar, a imposição das regras, ferir os princípios de educação aprendizagem, ou seja, a escola militarizada é a antiescola e a antieducação", analisa.
Escolas do DF
Em julho, o Ministério da Educação decidiu encerrar o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, um dos principais projetos da gestão do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o governo do DF decidiu prosseguir com as escolas de gestão compartilhada, mesmo que a militarização não tenha melhorado o desempenho escolar, conforme especialistas.
"Nós identificamos vários problemas que permeiam o ambiente escolar dessas escolas, porque não dá pra se trazer o quartel pra dentro da escola. Um corte de cabelo não vai influenciar na aprendizagem de um aluno", destaca Márcia Gilda.
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A persistência do governador Ibaneis Rocha (MDB) de prosseguir com as escolas de gestão compartilhada no DF tem sido alvo de críticas dos deputados progressistas na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O deputado Max Maciel (PSOL) analisou os dados da 1ª Pesquisa de Situação Escolar e questionou o governo do DF com a continuidade do programa.
"A pesquisa expõe falhas do projeto cívico-militar. A presença dos militares não conseguiu reduzir a violência e a sensação de insegurança. Isso é só para balizar que esse modelo é muito mais propagandista, do que, de fato, um modelo que tem seriedade com a educação", ressaltou Maciel, questionando: "qual é a capacitação e formação dos militares para lidar com os alunos?"
O deputado destacou que a escola precisa de outro tipo de investimento e capacitação dos servidores. "Nós acreditamos em uma educação verdadeira. Em uma escola aberta, para a comunidade e com toda equipe técnica formada. Que tenha a merenda escolar em dia. E que a polícia seja parte do processo, mas do lado de fora, fazendo a segurança da comunidade", resumiu Maciel.
O Brasil de Fato DF procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação para comentar a pesquisa, mas até o fechamento desta matéria a pasta não havia respondido.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva