Em 2015, a Supremo Secil Cimentos se instalou no município de Adrianópolis com o objetivo de produzir 1,7 milhão de tonelada de cimento ao ano. Na época, o então Governador Beto Richa comemorou a chegada da fábrica. O empreendimento contou com o apoio do Governo do Estado por meio do programa Paraná Competitivo, que oferece incentivos fiscais e outros benefícios. Richa disse, na inauguração, que a nova indústria mudaria o perfil socioeconômico da região do Vale do Ribeira, uma das mais empobrecidas do estado.
Ao longo destes dez anos, no entanto, o impacto tem sido negativo para os moradores, que denunciam inúmeros problemas, como poluição e estragos nas casas, e pedem soluções tanto da empresa como da Prefeitura de Adrianópolis.
“Meu pai já morava antes de 2011 ali, eu vim morar depois de 2011. Com a instalação dessa fábrica, acabou a tranquilidade do nosso bairro. Temos problema com poeira de cimento que se acumulam nas calhas das nossas casas, tem o lixo tóxico que eles queimam, causando mau cheiro durante a noite. Além de todos os problemas no presente, pensamos no quanto isso futuramente trará problemas de saúde”, diz o morador Nilson Alves Pedroso.
Casas destruídas
As correias de produção de cimento passam por cima das casas, gerando destruição de telhados e vidros. Juliane Rodrigues teme pela vida da mãe, que mora embaixo dessas correias. Segundo os moradores, cabos de sustentação já arrebentaram e pedras de cimento caíram sobre as casas, sendo necessário fazer troca de telhados.
“Minha mãe vive em pânico e com muito medo, pois abre a janela da casa dela, olha para cima e está lá a correia transportadora. Ela também vive em pânico com o barulho causado dia e noite pela correia transportadora, que é insuportável. Essa é a segunda correia transportadora que eles garantem ser seguros. Mas a primeira, que também garantiram ser tão segura, arrebentou e o material que nela estava danificou telhados e rachou casas”, relata Juliane.
Erosão e perigo para escola
Já a moradora Ana Séfora se preocupa com o lixo acumulado deixado pelos caminhoneiros que levam produtos para a fábrica. “Os moradores é que constantemente precisam limpar o lixo acumulado que entopem bueiros, vão para o Rio Ribeira e para o mar“, diz.
Junto a isso, a fábrica tem causado erosão no morro onde existem várias casas e na própria rodovia, com grande quantidade de lama e pedras rolando.
Outro agravante citado pelos moradores é que há uma escola municipal ao lado da fábrica.
“É bom deixar claro que tem uma escola localizada ali do lado, uma escola de educação infantil e do ensino fundamental, que fica ao lado desse descaso todo, dessa estrada esburacada, dessa poeira de cimento e esse odor insuportável da queima de lixo que eles fazem ali”, destaca a moradora Regina de Lima.
Ela ainda diz que o que moradores estão pedindo é o mínimo diante dos recursos de uma empresa grande como a Supremo. “O que a gente espera, já que a fábrica está instalada e já enriquece às custas de riquezas do município? Esperamos que eles nos deem um retorno e colaborem com as coisas básicas da cidade”, declara.
Reivindicações não atendidas
Na última audiência realizada pela diretoria da Supremo Secil Cimentos, em agosto, os moradores levaram uma carta apresentando as situações de risco à vida da população, pedindo principalmente que observem as legislações municipais e estaduais no que se refere à extração, produção e transporte de minérios, além de outros encaminhamentos que, segundo eles, não foram atendidos.
Na carta, os moradores pediam, com urgência, a retirada e realocação de famílias que moram no KM 04, por onde passa a correia que transporta cimento entre as torres da fábrica; realocação do galpão que armazena materiais usados na fabricação de cimento, que causa poeira; curso de mão de obra local; apoio às escolas e suas necessidades estruturais, como a construção de cobertura para evitar o contato com o pó; e manter cronograma de reuniões com a comunidade, entre outros.
Nilson conta que durante a audiência os moradores foram tratados como “ignorantes". “Então, no dia da audiência pública, eu apresentei dois baldes de cimento que eu tirei da calha minha. Na outra reunião que teve, que eu não fui, o rapaz da Supremo, o gerente, falou que aquilo era uma encenação, que não era cimento. Nos tratam como ignorantes. Mas eu tenho esses baldes lá em casa até agora e tem o vídeo”, diz o morador.
Denúncia ao Ministério Público
Os moradores também levaram a denúncia ao Ministério Público. O processo atualmente corre junto ao Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo (Gaema).
“Tramita no Gaema de Curitiba inquérito civil envolvendo a Fábrica Suprema Cimentos sobre a ampliação da empresa e possíveis danos ambientais. A partir desse inquérito civil, foi celebrado um termo de ajustamento de conduta, que vem sendo acompanhado pelo Ministério Público. Quanto às citadas reclamações de moradores, o tema será tratado pela Promotoria de Justiça da Comarca com atribuição na área ambiental,” informou a assessoria de imprensa do MP.
Supremo Secil diz seguir legislação
Em nota, a Supremo Secil Cimentos disse que “todas as operações em Adrianópolis são conduzidas rigorosamente em conformidade com a legislação vigente e seguem as diretrizes dos órgãos competentes e implementa medidas preventivas para monitorar, minimizar, mitigar e eliminar os eventuais impactos ambientais de suas atividades, observando padrões e protocolos de segurança e saúde contínua e periodicamente avaliados pelos órgãos e instituições responsáveis para garantir o bem-estar de seus colaboradores e das comunidades do seu entorno.”
A nota também informou que “a Supremo conduz reuniões com a comissão de acompanhamento ambiental com a participação de moradores de Adrianópolis e Ribeira, prefeitos, vereadores, secretários dos municípios, representantes do comércio, dirigentes de escolas, entre outros. Simultaneamente, são promovidas diversas iniciativas com relevante impacto cultural e socioambiental.”
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Prefeitura de Adrianópolis, mas não obteve retorno.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini