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SP: Trabalhadores avaliam vitória da greve e cobram plebiscito oficial sobre as privatizações

A oposição protocolou na Alesp um pedido unitário que cobra a realização de um plebiscito oficial sobre o tema

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Enquanto o ato ocorria em frente à sede da Sabesp na capital paulista, um trem da Linha 9 - Esmeralda, operada pela ViaMobilidade, entrou em pane na zona sul - Marcelo Cruz / Brasil de Fato

Trabalhadores da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô de São Paulo consideraram vitoriosa a paralisação conjunta das atividades, ocorrida nesta terça-feira (3). A mobilização das três categorias teve por objetivo dialogar com a população e dar visibilidade ao tema da privatização dos serviços públicos, proposta que está em processo de avanço pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Jair Bolsonaro.  

Para José Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), a mobilização grevista mostrou boa adesão dos trabalhadores às pautas.  

“No metrô todas as linhas que são públicas não funcionaram. Funcionaram apenas as privatizadas. A CPTM também teve uma boa adesão, com quase a totalidade das linhas que são públicas paralisadas e as que funcionaram, funcionaram de maneira parcial. E aqui na Sabesp a gente conseguiu em todas as regiões do Estado ter atos e movimentos de paralisação. No geral a adesão foi muito boa”.  

Ao decidirem pela greve, os profissionais da Sabesp se organizaram para garantir o atendimento emergencial a escolas e hospitais para evitar a interrupção do fornecimento de água em caso de acidentes, por exemplo. Além disso, as estações de tratamento de água seguiram funcionando – não houve cortes de fornecimento devido à paralisação.  

Em contraposição às declarações do governador, que justifica a privatização com argumentos sobre a universalização do serviço e a redução da tarifa, Faggian apontou que atualmente a Sabesp gera lucros para o estado de São Paulo. No entanto, se for privatizada, esse dinheiro será perdido dos cofres públicos.   

“A Sabesp, por exemplo, é uma empresa lucrativa e que já tem o serviço praticamente universalizado e ele [o governador] diz que precisa privatizar para universalizar. Isso não é verdade. Ele fala que vai diminuir a tarifa quando privatizar. O próprio estudo que ele encomendou mostra que se for para diminuir a tarifa é preciso ter um subsídio do estado. Isso é um crime cometido contra o povo de São Paulo, porque ele vai transformar a Sabesp numa empresa deficitária que o povo e o Estado vão ter que passar a subsidiar para poder, entre aspas, diminuir a tarifa. Não faz o menor sentido”.  

Confira a reportagem em vídeo: 

Adesão dos trabalhadores 

Jurandir José da Silva Junior, que trabalha como assistente de saneamento da Sabesp relata que já existe serviços de certa forma privatizados dentro da Sabesp. E que isso já é um exemplo da péssima qualidade do que pode se tornar o serviço de saneamento privatizado.  

“São várias empresas terceirizadas que prestam serviço para a Sabesp, desde manutenção com esgoto, manutenção de cavalete, manutenção na rede. E o que é percebido é que muitas vezes esse serviço acaba sendo ineficiente e mal prestado. Muitas vezes a mão de obra própria (da empresa pública) é acionada para poder corrigir problemas que foram gerados justamente por conta dessa mão de obra que já é privatizada, que inclusive conta com trabalhadores que são muito explorados”, detalhou.  

Para Jurandir a greve foi um movimento para mostrar o que está acontecendo. “Muita coisa nesse governo do Tarcísio, juntamente com o prefeito Ricardo Nunes, é feito na calada da noite sem que se saiba, sem que a população tenha conhecimento e sem que se haja debate público a respeito disso tudo”, afirmou.   

Plebiscito 

Para o metroviário Gustavo Matos, a greve foi vitoriosa ao conseguir adesão até de setores que costumam ser utilizados pelo governo paulista para manter a empresa operando em caso de paralisação dos trabalhadores, como os supervisores operacionais. O que foi fundamental para garantir o sucesso da mobilização. Para ele, o plebiscito popular que está perguntando para a população se ela é favorável ou contrária ao projeto de privatização do governo do estado, é uma importante iniciativa.   

“A iniciativa do plebiscito é uma importante iniciativa das direções de sindicato, dos movimentos populares, de aproximar esse debate dos bairros mais pobres, das universidades, dos outros movimentos. E isso que nós estamos fazendo, eu acho que serve para elevar o nível de consciência da população em relação ao caráter das privatizações e ao caráter desse governo que quer entregar o patrimônio público de São Paulo. E essa iniciativa está sendo muito bem aceita na nossa avaliação”, afirmou.    

Para a estudante de Geografia e membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) Karla Albuquerque, o plebiscito é necessário para que seja garantido o acesso à informação e o diálogo com a população.  

“A gente não pode simplesmente aceitar que é um debate colocado pelo governo. O que é do povo tem que ser consultado ao povo e trazer esse diálogo juntamente com os estudantes faz com que a gente traga de fato o tema, que muitas vezes passa batido por muitos, mas também fazer com que os trabalhadores conversem ainda mais com os estudantes, porque essa união é importante”.  

Paula Nunes, co-deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) pela Bancada Feminista do PSOL, destacou que foi protocolado na Alesp um pedido unitário da oposição para que seja realizado um plebiscito oficial sobre o tema.  

“Como a população sofre todos os dias com o caos da ‘via imobilidade’ com as linhas 8 e 9 da CPTM, como a população vê o que é o reflexo da privatização do saneamento básico no Rio de Janeiro, nós achamos que é fundamental que o governo do estado faça uma consulta oficial à população paulista. Para isso o plebiscito é muito importante e nós esperamos ver aprovado na Assembleia Legislativa esse plebiscito oficial”, afirmou. 

O plebiscito popular organizado pelos sindicatos e movimentos populares vai até o dia 5 de novembro. Locais de votação e formas de participação online podem ser consultados na página Contra a Privatização

Paula considerou a terça-feira como “uma greve histórica” e destacou que Tarcísio foi desonesto ao usar os meios de comunicação para criticar a paralisação.    

“O governador, a única coisa que fez, foi ir à público para condenar o direito de greve sem dizer que, na verdade, ele não aceitou a catraca livre para a população. Se o governador tivesse realmente se preocupado com o deslocamento, com o direito ao transporte da população paulista, ele teria aderido ao chamado dos sindicatos dos metroviários e teria aceito a catraca livre”, concluiu. 

Edição: Rodrigo Gomes