Kevin McCarthy não é mais "speaker of the house". Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o presidente da Câmara dos Deputados foi retirado do cargo. Ainda mais impressionante, pelo desejo de membros do próprio partido.
O republicano foi eleito presidente da Câmara no início do ano, quando, por uma diferença apertada de dez votos - o placar da votação foi 221 a 212 -, o partido da oposição se tornou a maioria na casa. Mas, desde o início, não foi uma tarefa fácil - o que deixou ainda mais nítida a profunda divisão interna do Partido Republicano.
Para ser eleito presidente da Câmara, McCarthy passou por 15 votações repetidas. O que era para ser um processo simples, durou dias. Tudo porque a ala de de extrema direita do partido exigia grandes compromissos do deputado da Califórnia.
Mais recentemente, as exigências se tornaram ameaças. Seguindo as orientações de Donald Trump, os deputados apelidados de "deputados MAGA" (da sigla Make America Great Again, o slogan de Trump) não queriam um acordo orçamentário com a Casa Branca. Matt Gaetz, da Flórida, afirmou diversas vezes que chamaria uma votação para retirar McCarthy do cargo caso as exigências não fossem atendidas.
Ainda que parecesse ser contrário, Kevin McCarthy abriu um processo de impeachment contra Joe Biden por pressões e ameaças do mesmo grupo. Na primeira audiência, as testemunhas dos próprios republicanos afirmaram que não há provas que justifiquem um processo de impeachment contra o presidente pelos supostos crimes cometidos por ele e o filho Hunter Biden.
No último dia 30, os EUA corriam o risco de entrar em "shut down", ou seja, o governo poderia ficar sem dinheiro para pagar as contas. Sem um acordo sobre o orçamento, a Câmara passou uma lei que estendeu o prazo para um acordo por 45 dias. Esse movimento não agradou a ala ultraconservadora que queria atender aos desejos de Trump: paralisar o governo e gerar problemas para a Casa Branca.
Hoje as ameaças se concretizaram. Uma votação para destituir McCarthy foi chamada e o deputado perdeu o cargo. Apenas 8 republicanos votaram pela saída do presidente da Câmara, mas foram acompanhados por todos os democratas presentes, garantindo assim a maioria.
Para os democratas, a saída de McCarthy é uma vitória. Por um lado, a ala ultraconservadora do Partido Republicano é minoritária e, consequentemente, não escolherá o novo nome. Por outro, a situação mostra a incapacidade da oposição em se organizar, mesmo que internamente.
Patrick McHenry, republicano da Carolina do Norte, foi escolhido como presidente pro tempore. Não há previsão sobre o tempo que ele ficará no cargo, nem quando a crise chegará ao fim.
Edição: Thalita Pires