VOLTA AO PODER?

Evo Morales anuncia candidatura à Presidência da Bolívia

Ex-presidente vive pé de guerra com o atual governo de seu herdeiro político, Luis Arce

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Luis Arce e Evo Morales em março, durante evento público: hoje em dia, esta cena seria impensável - Aizar RALDES / AFP - 26/3/2023

Evo Morales quer voltar a governar a Bolívia. O ex-presidente (2006-2019) anunciou que pretende concorrer nas eleições de 2025, quando termina o mandato de Luis Arce, que já foi seu ministro da Economia e hoje é um rival político.

Evo e a cúpula do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) têm trocado farpas com ministros do governo Arce. Nos últimos meses, o ex-presidente acusou os ministros de Governo, Eduardo del Castillo, e da Justiça, Iván Lima, de tentarem envolvê-lo em casos de corrupção.

::Disputa interna ameaça rachar o partido governista na Bolívia::

Evo tornou pública sua intenção neste domingo (24), por meio de uma postagem na rede social X, na qual se disse “obrigado” a tomar tal decisão em razão do planos da atual gestão para prejudicar o seu grupo político. Acusou o atual governo, inclusive, de tentativas de eliminá-lo fisicamente.

Numa entrevista à emissora de rádio Kawsachun Coca, o ex-presidente mencionou também uma campanha “suja” contra ele. Disse que a oposição o chama de “traficante de drogas” e que, de dentro do próprio governo, ele é apelidado de “rei da cocaína”.

O ex-presidente é o primeiro político boliviano que anuncia a intenção de concorrer à Presidência do país em 2025. O atual presidente, que tem procurado se manter afastado do bate-boca, disse que o tema da reeleição ainda não está na agenda.

O MAS tem marcado para a semana que vem (3 a 5 de outubro) um congresso em que será formada a comissão organizadora para as primárias da legenda, nas quais serão escolhidos, em dezembro ou janeiro, os candidatos à presidência e vice-presidência da sigla.

O congresso está marcado para Cochabamba, uma das bases políticas de Evo. Os “arcistas” (aliados de Arce) tentaram articular para o encontro ser realizado em El Alto, perto da capital La Paz, e que servisse para renovar a liderança do partido, a começar pelo próprio Evo. Já os “evistas” alertam que a pauta será a expulsão de Arce e o vice-presidente David Choquehuanca, considerados “traidores”.

Em sua postagem, Evo afirma que, caso não consigam impedir a realização do congresso, seus opositores vão usar uma mulher para atacá-lo, “assim como a direita já fez”. Em 2019, quando deixou o poder depois de sofrer um golpe de Estado, quem assumiu a presidência interinamente foi Jeanine Áñez, que depois foi condenada por organizar o golpe e hoje está presa.

Após o governo provisório de Áñez, Luis Arce foi eleito presidente em 2020. Nunca foi o nome dos sonhos das bases do MAS, mas acabou sendo o escolhido por Evo numa "solução salomônica". Durante o início do governo Arce, Evo focava suas críticas em ministros e nas escolhas do novo mandatário, mas a situação escalou, a ponto de no último dia 25 de junho ele ter dito que o governo foi para a direita.

Em outra postagem feita após o anúncio de sua candidatura, Evo agradece o apoio manifestado por “tantas irmãs e irmãos que confirmam seu apoio à nossa candidatura para encarar uma campanha contra a mentira e a sabotagem”. E afirma que “o governo e a extrema direita separatista coincidem em opor-se a esta candidatura promovida pelo povo”.

Em termos programáticos, Evo Morales acusa Luis Arce de não ter avançado nada em relação à agenda criada por eles com 13 pilares de ações por ocasião do bicentenário - a independência da Bolívia foi proclamada em 6 de agosto de 1825, na cidade de Chuquisaca, atual Sucre.

* Com informações da EFE, Reuters e Folha de S.Paulo

Edição: Patrícia de Matos