A tradicional Marcha de la Romería, em Santiago, no Chile, foi interrompida neste domingo (10), por atos violentos de cerca de 50 pessoas encapuzadas e vestidas de preto. Realizada anualmente na véspera da data que marca o golpe contra Salvador Allende, em 1973, a caminhada normalmente segue no dia seguinte para homenagear mortes e desaparecidos pela ditadura que durou 17 anos no país.
A marcha deste ano lembra os 50 anos do golpe militar comandado pelo ditador Augusto Pinochet. De acordo com agências de notícias, os atos seguiam pacificamente, até que o grupo contrário atirou pedras e paralelepípedos contra o palácio presidencial La Moneda, quebrando seis janelas. Também foram registrados ataques com coquetéis molotov, deixando três agentes e um cachorro da polícia feridos.
Também ocorreram confrontos em outros pontos da capital chilena, como o Mercado Tirso de Molina e no Cemitério Geral, onde foi registrado confronto entre os manifestantes e o grupo encapuzado.
"Como Presidente da República, condeno categoricamente esses atos sem nenhum tipo de matiz. A irracionalidade de atacar aquilo pelo que Allende e tantos outros democratas lutaram é vil e mesquinha", escreveu o presidente Gabriel Boric, em sua conta na rede social X [antigo Twitter].
A horas de conmemorar el Golpe contra Allende cientos de manifestantes que caminaban a la tumba del Pdte. asesinado, fueron dispersados con agua y gases. Esta represión fue respondida con fuerza. La gente corre entre las tumbas. Chile. 10 de Sept. #50AnosDelGolpe 🧵 pic.twitter.com/eFZqIO5qrV
— Patricia Villegas Marin (@pvillegas_tlSUR) September 10, 2023
O vice-ministro do Interior, Manuel Monsalve, informou ao La Jornada, que cinco mil policiais estão destacados para salvaguardar todas as atividades comemorativas dos 50 anos do golpe militar.
#DíasEnImágenes #Chile Encapuchados lanzaron bengalas y objetos en torno al Palacio de La Moneda durante la marcha para recordar a detenidos y desaparecidos durante la dictadura de #Pinochet, en la víspera del 50 aniversario del #GolpeDeEstado
— La Jornada (@lajornadaonline) September 10, 2023
Fotos: Afp.https://t.co/YAOLL7v0hb pic.twitter.com/kicaxCVV9A
50 anos do golpe
Passado meio século do golpe que depôs Salvador Allende, no dia 11 de setembro de 1973, os ecos daquele ato reacionário e violento, assim como da ditadura feroz e sanguinária que se apoderou do país por 17 anos (1973-1990), sob o comando de Augusto Pinochet, ainda se fazem ouvir na sociedade chilena.
As estatísticas são de domínio público, até porque foram reconhecidas pelo Estado depois que o rumo democrático foi retomado: mais de 3 mil assassinados e desaparecidos (sendo que 1.162 seguem desaparecidos até hoje), quase 40 mil presos e torturados. Sem falar nos exilados, estimados em mais de 200 mil. Mas essa herança antidemocrática e antidireitos pode ser observada em outras consequências menos notórias, menos quantificáveis e que, portanto, acabam se desenrolando com mais discrição na história recente do país.
Edição: Vivian Virissimo