Garimpeiros convocaram um protesto para a tarde desta segunda-feira (28) em frente ao prédio utilizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no município de Itaituba (PA), na principal região de extração ilegal de ouro no Brasil. "Itaituba vai parar", diz a convocação da manifestação nas redes sociais.
A tensão vem crescendo após um garimpeiro ter morrido baleado por agentes do órgão ambiental na sexta-feira (25), durante uma fiscalização contra garimpo ilegal na Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós.
Segundo o Ibama, a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) está de prontidão para conter possíveis episódios de violência. O órgão ambiental informou que helicópteros usados na fiscalização foram removidos para evitar depredação.
Como medida de segurança, a maioria dos servidores do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) não trabalhará de forma presencial durante o protesto. Sem sede própria em Itaituba, o Ibama utiliza as instalações do ICMBio.
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Neste ano, o governo federal intensificou as operações contra o garimpo irregular no Pará. Da região sai 80% de todo o ouro ilegal extraído no Brasil, de acordo com estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Com a economia local dependente do garimpo ilegal, a atividade é estimulada por empresários e políticos da região. Mineradores ganham permissão de prefeituras para garimpar sem qualquer estudo de impacto ambiental e em desconformidade com leis federais.
Ao longo do rio Tapajós, o garimpo provoca efeitos devastadores, como o envenenamento por mercúrio de populações indígenas e ataques de mineradores clandestinos a lideranças dos povos originários.
Ibama diz que garimpeiro abriu fogo
Sobre a morte do garimpeiro na última sexta-feira (25), o Ibama informou que o homem estava armado e atirou contra os agentes ambientais, que reagiram. "Ele foi socorrido e levado de helicóptero para Itaituba (PA), mas não resistiu", informou em nota o órgão ambiental.
A morte ocorreu durante uma operação que destruiu 100 máquinas e desmobilizou 29 acampamentos de garimpo ilegal desde 10 de agosto. "Desde então, houve queda de cerca de 90% dos alertas de garimpo na região", afirmou o Ibama. O caso é investigado pela Polícia Federal (PF).
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A ação é realizada em conjunto com o ICMBio e tem apoio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Força Nacional de Segurança Pública e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Manifestações de garimpeiros têm histórico de violência
Em fevereiro de 2022, dois helicópteros do Ibama foram queimados em Manaus (AM). Segundo a Polícia Federal (PF), o mandante foi um empresário do garimpo ilegal. Em 2017, prédios do Ibama e ICMBio em Humaitá (AM) foram incendiados após fiscalização contra a mineração ilegal no Rio Madeira.
Em Itaituba, garimpeiros bloquearam rodovias por uma semana em março do ano passado, em protesto contra uma operação do Ibama que havia deixado R$ 12 milhões de prejuízos aos empresários do setor.
Na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, quatro garimpeiros morreram em abril deste ano após trocarem tiros com agentes do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Organizações indígenas afirmam que garimpeiros do estado atuam em conjunto com facções criminosas do Sudeste.
Edição: Felipe Mendes