O presidente da CPMI dos Atos Golpistas, Arthur Maia (União Brasil-BA), afirmou que as investigações do colegiado vão separar "o joio do trigo" nos casos que envolvem crimes cometidos por militares. A fala foi feita em coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (23), após encontro com o comandante do Exército, Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
O discurso era de que a CPMI precisa "preservar as instituições". A declaração acontece em reposta ao movimento de integrantes da comissão para convocar membros das Forças Armadas para explicar a provável contribuição de militares aos atos golpistas.
Jorge Rodrigues, pesquisador do Instituto Tricontinental, avalia que a iniciativa da CPMI de ouvir os militares poderia aumentar as chances de punição aos integrantes da força que cometeram crimes e que isso pode ser um bom sinal para a longevidade da democracia brasileira. Ao mesmo tempo, condenou o tom conciliário da entrevista do ministro e do presidente da comissão.
"O que a CPMI faz é dar uma perspectiva de que eles serão punidos pelos crimes que cometeram. Acho que é um passo importante que é dado, é uma janela de oportunidade importante que se abre.", afirmou o pesquisador
Jorge participou do Central do Brasil desta quinta-feira (24) e criticou essa inclinação do governo federal e CPMI em costurar uma conciliação com os militares.
"O que não pode acontecer é o povo brasileiro e o sistema político democraticamente eleito ficarem reféns de uma instituição armada. Acho que a ordem de prioridade do ministro José Múcio está um pouco equivocada, do ponto de vista do ordenamento democrático brasileiro. A fala reflete uma tentativa de apaziguar ânimos com os militares, como se a gente - sistema político e sociedade civil - precisasse de alguma forma acalmá-los. Como se nós, de algum espectro político, tivéssemos feito esse movimento de inspirar o golpismo e envolver os militares em crimes comuns, como é o caso das joias. Penso que é um sinal negativo que o ministro dá, do ponto de vista de alguém que deveria estar exercendo o controle civil sobre os militares, e não passando recado das forças armadas para o sistema político", pontuou.
Jorge recordou que estes últimos episódios e a participação dos militares no governo Bolsonaro prejudicaram a imagem das Forças Armadas diante da sociedade. Na segunda-feira (21), o levantamento feito pela Genial/Quaest revelou que o nível de confiança nas forças armadas caiu 10 pontos entre janeiro e agosto.
"A gente tem a exposição da instituição Forças Armadas, que se concretizou nos últimos quatro anos. É inegável que, a essa altura do campeonato, os militares brasileiros encamparam o bolsonarismo, participaram do governo e nomes como Pazzuelo e Mauro Cid estão na boca do povo pelos motivos absolutamente errados: pelos crimes que cometeram e pelo envolvimento no genocídio".
Por fim, Jorge analisou no programa os caminhos para superar a militarização do poder civil no Brasil.
"Primeiro ponto é a investigação e punição dos indivíduos egressos das Forças Armadas envolvidos tanto nos crimes comuns, como é o caso das joias, como também nos atos golpistas. Esse é um passo que a gente precisa dar para conseguir emplacar essa agenda. Se a opção for pelo apaziguamento e pela leniência, como historicamente se colocou no Brasil, a gente não avança", pontuou.
"Acho que haveria um ganho qualitativo se o Congresso assumisse a responsabilidade de pensar a política de defesa como uma política pública que ela é. A gente tá falando de um dos instrumentos da violência estatal que precisa passar pelo escrutínio do poder instituído para representar a população", concluiu.
A entrevista completa você pode conferir na edição desta quinta-feira (24) do Central do Brasil, disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras espalhadas pelo país.
Edição: Thalita Pires