O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a ativação do que chamou de "plano especial anti-golpe", com a mobilização de milícias bolivarianas e militantes do partido governista PSUV.
As declarações do mandatário ocorreram na noite desta segunda-feira (21) e vêm após o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, aliado e assessor na campanha da pré-candidata presidencial de direita Maria Corina Machado, falar em um "plano de desobediência civil" caso a opositora seja impedida de concorrer nas eleições presidenciais de 2024.
As falas de Ledezma ocorreram durante uma entrevista que o opositor concedeu no último domingo (20) ao canal Factores de Poder, controlado por opositores venezuelanos que vivem em Miami, nos EUA.
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O ex-prefeito foi questionado se haveria um plano para permitir que Maria Corina Machado concorra nas próximas eleições presidenciais, já que ela está inabilitada pela Justiça de ocupar cargos públicos por 15 anos, e se esse plano "incluiria a rebelião civil acompanhada da rebelião militar", ao que Ledezma respondeu: "é que não há outra maneira".
"A única maneira de levar adiante a inscrição [eleitoral] de uma mulher que está sendo vetada pelo regime é colocar em marcha a desobediência civil, não há enganos sobre isso", disse.
O opositor ainda mencionou o envolvimento de militares. "Estamos falando com militares, isso é normal, isso não é conspiração. Há pessoas que nos ligam e conversamos, pedem que não digamos seus nomes, pedem, às vezes, que nos encontremos disfarçados, tudo isso é natural", disse.
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As declarações de Ledezma repercutiram de forma negativa até mesmo dentro da oposição venezuelana e, além disso, teve consequências jurídicas. Na tarde da segunda-feira, o procurador-geral da República, Tarek William Saab, pediu a prisão e a extradição do ex-prefeito, que vive na Espanha.
"Aspiramos que as autoridades espanholas atuem, que sejam respeitadas as leis internacionais e que os homens e mulheres fora da Venezuela que acompanhem Ledezma neste plano macabro possam ser processados", disse Saab.
Histórico opositor ao chavismo, Antonio Ledezma está foragido da Justiça desde 2017, quando fugiu da prisão domiciliar, atravessou de maneira irregular a fronteira com a Colômbia e pediu asilo à Espanha. Ele havia sido afastado do cargo de prefeito da capital em 2015, após ser acusado de participar de uma tentativa de golpe de Estado em meio aos protestos opositores chamados de "guarimbas".
Em julho deste ano, Ledezma se juntou à campanha da pré-candidata Maria Corina Machado e assumiu a direção do Conselho Político Internacional da opositora.
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Ao convocar o chamado "plano anti-golpe", Maduro relembrou a participação de Ledezma em outras tentativas do que chamou de "conspiração para vulnerar a paz do país". "Com essas declarações, Ledezma e todo seu grupo golpista ficaram nus e nós temos que nos preparar institucionalmente", disse.
Sem precisar a data de início, o contingente de pessoas e regiões de atuação, o presidente disse que o "plano anti-golpe" envolveria a ativação das chamadas "quadrilhas da paz". O mecanismo foi criado em 2019, para conter tentativas de golpes de Estado lideradas pelo então chefe do "governo interino", o ex-deputado Juan Guaidó.
À época, as "quadrilhas da paz" eram formadas por militantes do partido chavista, por policiais da Guarda do Povo e por membros da milícia bolivariana, instituição composta por militares aposentados.
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"Estive conversando com o companheiro Diosdado Cabello [deputado e vice-presidente do PSUV] e dei a ordem de ativar imediatamente as quadrilhas de paz, mais de 4 milhões de líderes populares do país que são chefes das quadrilhas de paz, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, para garantir a união cívico-militar", afirmou.
Oposição reage negativamente
As declarações de Ledezma também repercutiram negativamente entre os pré-candidatos opositores que estão inscritos nas primárias. A data oficial do início da campanha foi nesta terça-feira (22), mas o tema levantado pelo assessor de Maria Corina dominou as discussões.
O ex-governador do estado de Miranda e ex-candidato presidencial por duas vezes, Henrique Capriles, que também concorre nas primárias deste ano, criticou Ledezma e disse que a "solução não é militar".
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"Eu ouvi dizer que eles se disfarçam para falar com militares. Por que colocar as Forças Armadas em temas políticos? Temos que respeitar as Forças Armadas, suas tarefas e responsabilidades", disse.
Já o secretário-geral do partido Acción Democratica (AD), Henry Ramos Allup, que trabalha na campanha do pré-candidato Carlos Prosperi, classificou as falas de Ledezma como "ridículas" e disse que seu partido rejeita "a via violenta".
"O que disse esse personagem é ridículo, porque se é verdade que está conspirando com militares, como vai dizer isso em público? Vai divulgar uma lista dos que darão um golpe contra Maduro? E se é mentira, também não pode contar uma mentira desse tamanho para enganar os que acreditam em uma intervenção", disse.
Edição: Thalita Pires