Nos últimos seis anos, desde o final do segundo mandato de Rafael Correa (2017), o Equador assiste uma escalada nunca vista de violência patrocinada pelo crime organizado representado prioritariamente pelo narcotráfico que, atualmente, controla também as penitenciárias.
De acordo com a ex-deputada Jhajaira Urresti, entrevistada pelo ComunicaSul, a partir do governo de Guillermo Lasso, “nosso país começa a ter estas ondas de tráfico de drogas introduzidas não só através dos mares, nas costas equatorianas, mas também nos nossos bairros, nas nossas capitais, nas nossas cidades”.
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A afirmação é confirmada pela juíza e militante Rosa Salazar, da Federação Democrática Internacional de Mulheres: “Chegou Lasso e não sabemos se temos ou não governo, porque não fez nada. As máfias apareceram com mais força e hoje estão institucionalizadas”.
O crime organizado já existia, como na Europa e em outros lugares, disse Rafael Correa, via internet, no comício de encerramento da campanha de Luisa González na quinta-feira (17). A grande diferença, explicou Correa, é que agora ele se infiltrou no Estado, no governo. “Há narcopolítica no governo. O narcotráfico infiltrou-se nas forças de segurança, nos oficiais superiores, nas forças armadas da Polícia Nacional”, denunciou.
“Hoje em dia, é impossível ignorar o fato de a corrupção e a infiltração do crime organizado no Estado terem se unido. Existe uma força de poder ‘informal’ ou ‘ilegal’ que está se sobrepondo ao poder formal” acrescentou, no mesmo sentido, o historiador equatoriano Juan Paz y Miño Cepeda.
Segundo pesquisas, a violência é hoje a principal preocupação dos equatorianos e tornou-se o assunto preferido das campanhas de todos os candidatos. O problema é tão grave que Correa gastou boa parte de sua intervenção no comício discorrendo sobre o que fazer para enfrentar os criminosos.
Para o ex-presidente, atualmente exilado na Bélgica, o combate ao narcotráfico deve ser enfrentado não apenas com armas, mas com ação eficiente dos serviços de inteligência para descobrir a estrutura das máfias. “Sabemos que quando se prende um lugar-tenente do tráfico, logo em seguida ele é substituído e a violência continua. Então, todos eles devem ser presos para que o bando possa ser totalmente desmantelado. Os serviços de inteligência devem descobrir como o dinheiro circula e como o crime é financiado, como eles obtêm mais e mais armamento pesado, por onde e como se deslocam as drogas”, afirmou Correa.
O Equador transformou-se hoje no principal fornecedor de cocaína da Europa, sem produzir um grama sequer. A cocaína “exportada” pelo país vem da vizinha Colômbia, pelo mar ou pela selva, e é contrabandeada para os europeus pelos portos equatorianos. Para combater este crime organizado transnacional, Correa defendeu uma coordenação internacional. “Temos de nos coordenar com a Colômbia e com os portos de destino”, sustentou, acrescentando que “tínhamos, por exemplo, as comissões binacionais de fronteiras e coordenávamos com a Colômbia a luta contra o tráfico de drogas. Onde eles não podiam ir, nós chegávamos. E devemos também coordenar-nos internacionalmente com a Europa e os Estados Unidos”. Todos os mecanismos institucionais de enfrentamento ao narcotráfico organizados durante o período da Revolução Cidadã foram desmantelados pelo governo Lasso, acusa Correa, e precisam urgentemente ser reconstruídos.
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“Este é um Estado narco, um governo que está junto do crime organizado. Alguém acredita nas investigações deste governo sobre o recente assassinato de Fernando Villavicencio? Ele fazia denúncias sobre os narco-generais, ou generais-narco. Será que eles o calaram?”, questionou Rosa Salazar.
Outro problema sério no Equador é que os narcotraficantes tomaram as penitenciárias do país e as transformaram em verdadeiros centros de operação do crime organizado. “Nas cadeias os criminosos têm armas de alto calibre, eletrodomésticos, todos os benefícios”, denunciou a juíza Salazar. “Temos de intervir nas penitenciárias para que deixem de ser dirigidas pelo crime organizado e essa intervenção deve ser profunda”, completou Jhajaira Urresti.
Queremos que depurem a cúpula militar, que depurem a cúpula da Polícia Nacional, todas as instituições que estão cheias de corruptos, afirma a juíza. Para isso, Rafael Correa defende até mesmo a utilização de polígrafo [vulgarmente conhecido como detector de mentiras] pois os membros das instituições públicas de segurança têm de passar em testes de confiança. E haverá alguns que não passarão, conclui o ex-presidente.