Poucas horas depois de um delegado da Polícia Federal (PF) ser atingido por um tiro de raspão na cabeça no Guarujá (SP), na manhã desta terça (15), a Polícia Militar de São Paulo assassinou mais duas pessoas durante a Operação Escudo. Deflagrada em 27 de julho em reação à morte de um soldado da Rota, a operação totaliza, agora, 18 pessoas mortas e 464 presas em apenas 19 dias.
Dias depois que a intervenção policial começou, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou que ela duraria 30 dias. Nesta quarta-feira (16), no entanto, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou que “a Operação Escudo segue por tempo indeterminado para sufocar o tráfico de drogas” na região da Baixada Santista.
A versão da SSP-SP, chefiada pelo ex-policial da Rota Guilherme Derrite (PL), é de que todos “os suspeitos” – incluindo os dois últimos – foram mortos em confronto. Os moradores das comunidades, em contrapartida, afirmam que a Polícia Militar está cometendo execuções e tendo como alvos principais homens periféricos jovens e com antecedente criminal.
Os homens mortos por agentes do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) na última terça (15) não tiveram os nomes divulgados. Um deles foi baleado no bairro Pae Cará, na região de Vicente de Carvalho; e o outro, cerca de três horas depois, no bairro Santa Rosa.
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Até o momento, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recebeu imagens de apenas seis câmeras de PMs envolvidos nas mortes no litoral paulista, além de 12 laudos do Instituto Médico Legal (IML). As cerca de 50 horas de gravação, informou o MP-SP, revelaram que em ao menos três ocorrências não há evidências de troca de tiros.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, à frente do órgão cuja função é receber e encaminhar apuração sobre denúncias de ações irregulares dos agentes de segurança, afirmou ter sido ameaçado de morte.
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Ataque ao delegado da PF
Thiago Selling da Cunha, delegado da PF de 40 anos, foi baleado enquanto participava de uma ação de mandado de busca e apreensão no Guarujá. Ele passou por uma cirurgia no Hospital Santo Amaro, apresenta quadro estável e está sendo transferido, nesta quarta (16), para um hospital na capital paulista.
De acordo com a PF, dois homens que seriam os autores dos disparos contra o delegado foram presos e conduzidos à Delegacia de Polícia Federal de Santos. Ali, foram autuados por tentativa de homicídio, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo.
O Brasil de Fato questionou sobre o que fazia a Polícia Federal em comunidades que já estão sob alvo de uma megaoperação com cerca de 600 agentes das polícias paulistas. A SSP-SP informou que a PF não integra a Operação Escudo. Já a Polícia Federal não respondeu o que motiva a presença de seus agentes na Vila Zilda.
Edição: Rodrigo Chagas