A Petrobras anunciou nesta terça-feira (15) que vai aumentar o preço da gasolina e do diesel vendidos a distribuidoras de combustível. O reajuste será aplicado a partir de quarta (16) e acontecerá em meio a reclamações de concorrentes privados da estatal sobre a nova política de preços da companhia, que barateou os derivados de petróleo no país.
O litro da gasolina produzido pela Petrobras passará de R$ 2,52 para R$ 2,93 – aumento de 16,3%. Já o diesel subirá de R$ 3,02 para R$ 3,80, uma elevação de 25,8%.
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Este é o primeiro reajuste do diesel aplicado pela Petrobras desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu reduzir o custo do combustível. Quando Lula assumiu, a estatal vendia o diesel a R$ 4,49.
O anúncio do aumento do combustível ocorre justamente num momento em que concorrentes da Petrobras reclamam abertamente da redução dos preços. Segundo importadores de combustíveis e refinarias privadas, a estatal havia barateado principalmente o diesel a tal ponto que estava se tornando inviável financeiramente para empresas privadas produzirem ou revenderem o combustível.
As empresas privadas alertavam, inclusive, que isso criava um risco de desabastecimento no país, já que a Petrobras não consegue, sozinha, suprir toda a necessidade do mercado.
‘Ataque especulativo’
Na segunda-feira (14), o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, afirmou em redes sociais que a Petrobras estava sendo vítima de um “ataque especulativo de agentes econômicos”. Segundo ele, empresas privadas estariam comprando diesel e estocando o produto, pressionando a estatal a elevar preços.
🔴 NOTA
— Deyvid Bacelar (@deyvidbacelar) August 14, 2023
Foi detectado hoje, pela @fupbrasil, um ataque especulativo de agentes econômicos, em um movimento de formação de estoques para forçar um suposto desabastecimento do mercado interno de combustíveis. (1/8)
No mesmo dia, mais cedo, a Petrobras emitiu uma nota reforçando que estava entregando a distribuidoras de combustível todo o diesel por elas comprado. “Não reduzimos nossa oferta de diesel”, dizia o título do comunicado da empresa.
Já a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) divulgou comunicado informando que havia “uma restrição nas entregas de combustíveis em algumas bases de distribuição para os postos”, apesar de não haver desabastecimento no país.
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No mesmo comunicado, a federação falou dos impactos da redução do preço dos combustíveis da Petrobras sobre a cadeia de mercado dos produtos. "Hoje, o Brasil precisa contar com a importação de óleo diesel e gasolina para manter o abastecimento no país", declarou.
Petrobras cede
Para o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo (OSP), a Petrobras cedeu à pressão, ainda que parcialmente.
Segundo ele, relatórios sobre preços internacionais de combustíveis indicavam, na segunda-feira (14), que a estatal vendia gasolina R$ 0,90 mais barata que fora do país. Ela aumentou R$ 0,41. Já o diesel estava R$ 1,18 mais barato. Houve aumento de R$ 0,78.
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Para Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Petrobras errou nessa cessão ao lobby privado.
É errada essa mudança brusca da Petrobrás. Abandonamos o PPI justamente para suavizar ajustes. A Petrobrás cede ao lobby dos importadores, que estavam criando pânico na imprensa. E atrapalha o processo de desinflação ao dar uma guinada brusca nos preços... https://t.co/CZeDVk211L
— Pedro Faria (@eupvfaria) August 15, 2023
Os aumentos de combustível devem ter impactos diretos na inflação. A Petrobras é a maior fornecedora de combustíveis do país. Seus reajustes são quase que automaticamente transferidos para o preço final da gasolina e diesel nos postos.
O diesel é usado por veículos de transportes de mercadorias no Brasil. Seu aumento, portanto, tem um efeito sobre o preço final de muitos produtos.
Edição: Geisa Marques