A nova gestão da Petrobras anunciou nos últimos dias medidas que colocam a companhia mais próxima do projeto desenhado para ela pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois de romper com os preços de paridade de importação e "abrasileirar" o valor dos combustíveis no país, o conselho de administração da estatal alterou a política de pagamento de dividendos para acionistas abrindo espaço para que a companhia reforce seus investimentos – prometidos por Lula.
A decisão do conselho de administração sobre os dividendos foi tomada na sexta-feira (28). A fórmula que define os pagamentos leva em conta o chamado fluxo de caixa livre gerado pela empresa. Isso é a soma do que a empresa ganha com sua operação, já descontados o que ela gasta, menos o valor dos investimentos que a estatal faz.
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Até agora, a Petrobras distribuía a seus acionistas 60% do tal fluxo de caixa livre. Essa fórmula, combinada com a venda de parte do patrimônio da empresa, transformou a Petrobras numa das maiores pagadoras de dividendos do mundo em 2022.
Daqui para frente, porém, a empresa vai pagar apenas 45% do seu fluxo de caixa livre. Vai também poder descontar na fórmula dos dividendos todo valor aplicado por ela em eventuais aquisições de ações ou participações societárias de empresas.
"É uma mudança saudável", resumiu Mahatma dos Santos, um dos diretores técnicos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). "Ela reduz o montante destinado a dividendos e, em alguma medida, amplia a capacidade de investimentos, que ganham um caráter mais amplo."
Recompra de ações
Essa nova política de remuneração de acionistas prevê, inclusive, que a Petrobras recompre ações que hoje estão nas mãos de investidores.
Dos Santos acrescentou que esse tipo de operação pode passar a ser necessária para a Petrobras, já que a empresa pretende dar mais atenção a projetos de energia limpa e renovável nos próximos anos.
Esses projetos tendem a dar retornos menores à companhia num curto prazo. Isso poderia desagradar investidores, o que faria com que os preços das ações da estatal caíssem na bolsa de valores.
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Com a recompra, a Petrobras abre a possibilidade desses investidores desfazerem-se das suas ações e devolvê-las à empresa, dando mais autonomia a seus gestores. "Serve como uma defesa", disse dos Santos.
Rosangela Buzanelli, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da estatal, escreveu em seu blog que a possibilidade de recompra de ações está ligada à elaboração de um novo plano estratégico para a Petrobras e sobre a intenção da empresa de aumentar investimentos em energia de baixa emissão de carbono. Mas é mais que isso, disse ela.
"A mudança, mais do que adequação ao plano estratégico e o investimento em transição energética, representa o início de um urgente processo de resgate da companhia, canibalizada para alimentar a ganância financista de curtíssimo prazo que a desmontou e apequenou, visando a maximização dos lucros", ressaltou Buzaneli.
Ela votou parcialmente favorável à adoção da nova política. Queria que a Petrobras parasse de pagar dividendos trimestralmente –o que continuará sendo feito, segundo decisão do conselho.
Concursos
A Petrobras também anunciou na segunda-feira (31) que pretende contratar 2.710 novos funcionários. Todos eles serão selecionados via concurso.
Segundo a empresa, 1.350 trabalhadores com nível superior já aprovados num concurso realizado em 2021 serão convocados a ocupar seus postos. O concurso selecionou engenheiros, cientistas de dados, administradores, economistas, geólogos e geofísicos.
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Outros 820 profissionais com nível técnico aprovados num concurso realizado em abril serão contratados para trabalhar na produção do Campo de Búzios, na Bacia de Santos e no setor de refino da estatal.
Por fim, a companhia vai realizar, até o final deste ano, um novo concurso para contratar outros 458 trabalhadores de nível técnico. O edital terá previsão de 20% de vagas para candidatos negros e outros 20% para pessoas com deficiência.
Edição: Thalita Pires