As delegações do governo da Colômbia e do grupo guerrilheiro ELN (Exército de Liberação Nacional) instalaram nesta segunda-feira (14) o 4º ciclo de diálogos de paz em Caracas, capital da Venezuela, um dos países mediadores do processo.
Essa é a primeira vez que ambas as partes voltam a negociar logo após um acordo de cessar-fogo que foi assinado em Havana, Cuba, na última rodada de diálogos e entrou em vigor no último dia 3 de agosto.
Durante o ato que marcou a instalação do novo ciclo de negociação, o chefe da delegação do governo colombiano, Otty Patiño, afirmou que um dos principais temas serão "planos concretos para que os chefes das frentes de guerra do ELN e das comunidades dos territórios [afetados pelo conflito] participem [do processo]".
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"Aproveitamos a vontade da direção nacional do ELN e de seu Comando Central para comprometer todas os comandantes e combatentes desse organização na construção da paz", disse.
Já o chefe da delegação do ELN, Pablo Beltrán, disse esperar que os acordos alcançados em Caracas "se cumpram" e que o grupo vai se esforçar para fortalecer a comissão de participação cidadã que foi formada em Bogotá como previsto pela última rodada de negociações.
"É importante um processo de participação cidadã. As forças do governo e do ELN são poucas para as mudanças que devem ser feitas na Colômbia, então pedimos que a sociedade colombiana participe desse processo, porque a paz não será produto de um governo ou de uma insurgência, ela será da sociedade colombiana", disse.
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A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, também participou do ato de instalação dos diálogos e reforçou os apelos da Venezuela enquanto país garantidor pela criação de corredores humanitários para vítimas do conflito armado.
"Queremos ressaltar [a importância] de que medidas de alívio humanitário possam ser adaptadas para atender quem foi afetado pelo conflito, para que se convertam em um objetivo humanitário imediato", disse.
O início do 4º ciclo de diálogos é mais um passo no plano de "paz total" promovido pelo governo do presidente colombiano Gustavo Petro, que pretende não só estabelecer acordos de paz com grupos guerrilheiros como o ELN, mas também com facções ligadas ao narcotráfico. No entanto, apesar de alguns avanços alcançados, o mandatário vem enfrentando obstáculos internos que ameaçam os avanços do processo.
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Além da grave crise política enfrentada por seu governo, que já sofreu ameaças de golpe, trocas de ministros por acusações de corrupção e pressões do Ministério Público, os níveis de violência armada no interior do país ainda são muito altos.
Segundo dados do Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz), 105 líderes sociais já foram assassinados no país desde o início do ano. As mortes estão ligadas a ações de grupos armados nas regiões que vitimam representantes sociais das comunidades que buscam defender seus territórios.
Edição: Rodrigo Durão Coelho