Joe Manchin, senador democrata da Virgínia Ocidental, pode estar de saída do partido. Para muitos, não é uma surpresa. Manchin é visto como o mais republicano dos democratas e foi uma das maiores pedras no sapato da administração Biden até aqui. Sua possível saída, porém, preocupa a Casa Branca a pouco mais de um ano da eleição.
A Virgínia Ocidental está longe de ser um estado em disputa. Um dos mais pobres do país, Trump venceu por lá com quase 69% dos votos. A última vez que um democrata levou os delegados do estado foi em 1996, com Bill Clinton. Mesmo sendo um democrata, Manchin responde aos anseios de um eleitorado conservador.
Manchin se opôs, especialmente, às propostas da Casa Branca relacionadas ao meio ambiente. Não por acaso, ele foi o membro do congresso que recebeu as maiores doações de empresas de gás, petróleo e carvão. No impasse sobre o Teto da Dívida, foi ele quem empurrou a construção de um gasoduto na proposta final aprovada.
O senador, por vezes, ficou do lado dos republicanos em temas centrais. Esse é o caso da imigração, onde ele defendeu abertamente o Título 42, medida instituída durante o governo Trump que impedia imigrantes de pedirem asilo na fronteira terrestre. Em maio, ele se aliou aos republicanos para derrubar medida de Biden que acabava com penalidades contra imigrantes que utilizavam serviços sociais.
Mas o senador de Virgínia Ocidental não está sozinho. Krysten Sinema, senadora do Arizona, também foi uma democrata dissidente (à direita) durante os primeiros 2 anos de governo Biden. Ela saiu do partido em dezembro de 2022 e se tornou uma independente. Ontem (10), Joe Manchin disse em entrevista a uma rádio que pensa seriamente em fazer o mesmo.
O que assusta a Casa Branca não é a saída de Manchin, mas sim o motivo desta saída. O senador já afirmou que pensa em lançar uma candidatura de terceira via às eleições de 2024. As chances de vitória são minúsculas, quase inexistentes, mas ele pode fazer com que Joe Biden sangre em estados chave, entregando a vitória para o oponente republicano.
Em 2020, Joe Biden venceu em estados chave com uma margem extremamente apertada: 0,23% na Geórgia, 0,3% em Arizona, 0,63% em Wisconsin, 1,17% na Pennsylvania e por aí vai. Com Manchin na corrida, mesmo que com uma votação muito pequena e inexpressiva, ele poderia tirar de Biden a vantagem necessária para carregar esses delegados fundamentais para o seu plano de reeleição.
Na sua briga contra o governo, Joe Manchin conseguiu o que queria: ser tratado como o mais importante dos senadores pela Casa Branca. Recentemente ele jantou com um dos principais assessores de Joe Biden. O motivo seria o presidente não ser pego de surpresa com algum anuncio bomba do senador.
Na semana que vem, a Casa Branca fará um evento de comemoração do um ano da aprovação do Ato de Redução da Inflação. O tema foi ofuscado, porém, desde que Manchin afirmou que não comparecerá. Uma pedra no sapato que pode se tornar um grande obstáculo para as pretensões de Joe Biden.
Edição: Rodrigo Durão Coelho