Uma das regiões com maior produção de mel da Bahia perdeu pelo menos 90 milhões de abelhas neste mês. Apicultores de Ribeira do Pombal e região já contabilizam a morte de mais de 1.500 enxames. Os primeiros testes realizados pela Cooperativa de Apicultores de Ribeira do Pombal (Cooarp) juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR) apontam que os insetos morreram envenenados com fipronil, um agrotóxico utilizado nas lavouras de milho e, irregularmente, também em pastagens.
O fipronil é utilizado como inseticida e tem sua venda proibida na União Europeia. No entanto, a sua produção em solo europeu e sua exportação para outros países segue sendo permitido. No Brasil, ele já é proibido desde 2021 no estado de Santa Catarina.
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José Carlos, apicultor e diretor da Cooarp, explica que várias propriedades da região utilizam o fipronil, em pulverizações por bomba costal ou por trator, mas esta é a primeira vez que os apicultores presenciaram uma perda em massa de enxames como esta. Ribeira do Pombal já foi o maior produtor de mel da Bahia, e a Cooarp costumava ter uma produção anual de cerca de 600 toneladas de mel.
A cooperativa ainda não tem uma estimativa de como sua produção deve ser afetada este ano. “É um impacto muito grande não só financeiro para os apicultores. Existe outra coisa, que é a nossa fauna, outros insetos e outros animais, como alguns pássaros, que vêm morrendo também com o uso desses agrotóxicos”, ressalta José Carlos.
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Edilson Morais, apicultor e vereador em Ribeira do Pombal, conta que apicultores de outros municípios, como Nova Soure, Cipó, Banzaê, Cícero Dantas e Heliópolis, também relataram à Cooarp perda de enxames. “Um prejuízo enorme na apicultura e no meio ambiente. Futuramente, a população será prejudicada na sua saúde também”, acredita.
A SDR chegou a publicar um comunicado oficial no início de julho afirmando que o episódio se devia “muito possivelmente ao indiscriminado e irresponsável uso de agrotóxicos na região”. Na nota, a Secretaria aponta os danos ambientais e à saúde humana e reconhece que esse não é o primeiro episódio de mortalidade em massa de abelhas na Bahia causado por fipronil.
“Essa é uma situação que vem ocorrendo nos últimos anos em diversos territórios, como Costa do Descobrimento, Sisal, Velho Chico, Litoral Norte e Nordeste II, e compromete diretamente os esforços implementados pelo governo do estado para o fortalecimento do sistema produtivo da abelha e do mel”, diz a nota da SDR.
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A especialista em bioecologia de abelhas, Genna Sousa, explica que uma perda dessa amplitude terá impactos futuros na produção de alimentos, pois cerca de 70% dos alimentos consumidos pelos seres humanos dependem, em algum grau, da polinização das abelhas. Sousa, que também é bióloga e doutora em Ciências Agrárias, ressalta ainda que as abelhas solitárias e sem ferrão são fundamentais para a polinização das matas nativas, sendo, portanto, extremamente relevantes para a manutenção da vida desses biomas.
A mortalidade dessas abelhas na região de Ribeira do Pombal, no entanto, dificilmente poderá ser medida, uma vez que essas abelhas não estão em criadouros, mas sim vivem em ambientes naturais.
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Difícil recuperação
O apicultor Edilson Morais conta que, há cinco anos, pouco mais de cinco colmeias morreram subitamente em Ribeira do Pombal e foi identificada a presença de fipronil nelas. “Aquelas colmeias nunca foram recuperadas. Um enxame jamais entra naquela caixa contaminada”, explica.
Por isso, ele acredita que a recuperação dos enxames na região vai durar um longo tempo. Mesmo quem puder arcar com os custos de adquirir novas colmeias para capturar enxames, terá dificuldade, uma vez que os enxames estão reduzidos na região. “A enxameação vai ser mínima, e essas caixas novas só começam a produzir depois de dois anos”, explica.
Embora essa associação entre o uso de inseticidas à base de fipronil e a mortalidade em massa de abelhas seja amplamente documentada em todo o mundo, no Brasil, é possível comprar tais inseticidas até mesmo em pet shops, para uso doméstico.
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Genna Sousa conta que o Fórum Nacional e o Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos têm demonstrado nos últimos anos a letalidade para abelhas desse e de outros agrotóxicos, realizando campanhas que pedem o banimento de uso em todo o país. A SDR, na nota emitida no início de julho, também informa que solicitou ao Ibama a proibição de uso e comercialização do agrotóxico. Mas até o momento, no Brasil, existe apenas restrição de uso para pulverização aérea.
A especialista Genna Sousa explica ainda que, por se tratar de um agrotóxico sistêmico, ou seja, que são absorvidos pelas plantas, é possível que ele deixe resíduos tanto no néctar e mel, quanto nos alimentos provenientes de lavouras pulverizadas com ele.
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Fonte: BdF Bahia
Edição: Alfredo Portugal