Organizações do movimento negro se uniram na noite desta quinta-feira (3) em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), no centro da capital paulista. O objetivo foi protestar contra ação policial na Baixada Santista no âmbito da Operação Escudo, que já soma 16 mortos, mas os manifestantes se surpreenderam com o esquema de segurança montado para receber os movimentos sociais.
A coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), Regina Lúcia dos Santos, relatou ter tido dificuldade para chegar ao local do protesto em decorrência dos diversos bloqueios montados pela Polícia Militar. A militante precisou esconder a camisa do movimento social que representa para passar pelo cordão de agentes de segurança.
Segundo a deputada estadual Paula Nunes, a ideia da polícia era sufocar ainda mais o protesto: os PMs cercariam dois lugares, fariam revista em um dos pontos e no outro haveria grades, de modo que “a manifestação ficaria encurralada” em frente ao prédio da SSP.
“Milito no movimento negro há mais de dez anos e nunca fiz um ato em frente à Secretaria de Segurança Pública com ela completamente cercada”, disse a parlamentar, que precisou entrar em negociação com os policiais para que o protesto acontecesse fora do perímetro previamente estabelecido.
“Ainda há muito policiamento, muita polícia ao redor, pessoas estão sendo revistadas, mas fazer o ato entre as grades era algo impensável pra gente. A manifestação no espaço público é um direito constitucionalmente garantido, então não é possível que a polícia ache por bem encurralar uma manifestação na frente da SSP”, afirmou a deputada.
A sensação de confronto foi compartilhada pelo auxiliar de enfermagem Alexandre Arruda Paula, que trabalha no Guarujá (SP), um dos municípios onde acontece a Operação Escudo. Segundo o profissional da saúde, os militares fizeram a barreira de forma ostensiva.
“A gente vê que nas manifestações do grupo do ex-presidente não tinha nada, e aqui com a gente eles tão fazendo dessa forma, como tratam todo mundo, né? Sendo preto, é marginal. Essa é a visão que eles têm: a gente é preto, então é um perigo para a sociedade. Essa visão tem que ser mudada”, protestou.
Operação Escudo
Nesta quinta-feira (3), subiu para 16 o número oficial de pessoas mortas pela Polícia Militar (PM) na Baixada Santista desde o início da Operação Escudo. A ação foi deflagrada na última sexta-feira (28), como resposta à morte do soldado Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), em 27 de julho.
No primeiro final de semana de operação, os PMs mataram 10 pessoas em comunidades na Baixada Santista, mas, ainda assim, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou ter ficado “extremamente satisfeito com a ação da polícia”, da qual ressaltou o que considera “profissionalismo”.
Outro lado
O Brasil de Fato solicitou à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) um posicionamento sobre a estratégia montada para receber a manifestação desta quinta-feira (3), mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Caso o jornal receba retorno, este material será atualizado.
Edição: Rodrigo Chagas