Bruxelas

Na Celac, América Latina impõe sua agenda e sai com possível solução a isolamento da Venezuela

Cúpula termina com acordos e promessas de investimentos; Caracas vislumbra fim de sanções

São Paulo |

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Chefes de Estado se encontram para tratar do processo eleitoral venezuelano; Macron e representante da União Europeia estavam presentes - EMMANUEL DUNAND / POOL / AFP

A Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia chegou ao seu desfecho, nesta quinta-feira (18), com passos importantes no sentido de romper o isolamento da Venezuela, uma das agendas dos países da região que predominaram durante o encontro.

Havia a expectativa de que o evento fosse dominado pelo tema da guerra da Ucrânia e que isso acabasse monopolizando o debate. A avaliação é do professor de Política Internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ , Paulo Velasco.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o analista observa que, ao invés de ceder à pauta do norte global, o saldo geral foi de enfoque nas "questões [da América Latina], que são muito mais caras e prioritárias."

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Em plenárias e reuniões bilaterais, foram costurados acordos e investimentos prevendo soluções políticas, econômicas e socioambientais para os países latinos e caribenhos. Nestas resoluções, segundo o analista, o Brasil conseguiu ter o protagonismo que o mundo esperava ver. 

“O Brasil conseguiu galgar alguns degraus em termos de visibilidade internacional. O mundo esperava que o Brasil exercesse um papel de liderança na América Latina. Então havia uma expectativa quanto à assertividade e o protagonismo brasileiro. E o país tomou para si determinadas responsabilidades. Eu diria que o Brasil sai mais forte desta Cúpula, disposto a arcar com responsabilidades e assumir um ônus de liderança na sua região”, afirma Velasco.

Para o professor, Lula foi muito contundente quanto aos seus compromissos com a questão ambiental. E foi assertivo nas tratativas em favor da estabilidade da Venezuela, visando as eleições que estão programadas para ocorrer no país no próximo ano. 

Durante os dois dias de reunião, o mandatário brasileiro se reuniu com a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; com o enviado do governo dos EUA, Chris Dodd; com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley; com o rei dos belgas, Filipe I, o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo e a presidenta do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, entre outros representantes.

“É a oportunidade não apenas de você fazer acordos, discutir ações conjuntas, políticas de investimentos, como é extremamente importante fazer reuniões bilaterais com presidentes para que você discuta a aproximação do Brasil com o mundo”, disse Lula.

Apoio à Venezuela

Em uma reunião paralela à Cúpula, lideranças de diversos países trataram das eleições venezuelanas e do fim das sanções à República Bolivariana. Além de Lula, a agenda contou com a presença dos presidentes da França, Emmanuel Macron, da Argentina, Alberto Fernández, da Colômbia, Gustavo Petro e com o representante da oposição venezuelana, Gerardo Blyde.

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Em nota, o governo brasileiro afirmou que os chefes de Estado e o Alto Representante da União Europeia, Josep Borrel, fizeram um apelo ao governo venezuelano e à oposição por “uma negociação política que leve à organização de eleições justas para todos, transparentes e inclusivas”. Ainda foi instado que as eleições no país latino americano devem ser acompanhadas pela “suspensão das sanções, de todos os tipos, com vistas à sua suspensão completa”.

No documento também consta que "os chefes de Estado e o alto representante concordaram que o relançamento das relações entre a UE e a Celac representa uma oportunidade de trabalhar em conjunto em prol da resolução da situação venezuelana. Eles propuseram que os participantes da reunião continuem a dialogar, no marco das iniciativas estabelecidas, de forma a fazer um novo balanço no Fórum de Paz de Paris em 11 de novembro de 2023.”

Para Velasco, esta declaração representa um aprofundamento das negociações que ocorreram no México, quando governo e oposição assinaram dois acordos parciais para proteção social e defesa do território venezuelano, mediada por representantes do governo mexicano e norueguês. 

“Quem ganha com isso não é o Maduro, não é oposição, mas é o povo venezuelano que terá melhores condições de, enfim, superar a dramática crise humanitária que os abate há cerca de uma década”, afirma o professor. 

Edição: Patrícia de Matos