Um relatório divulgado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos mostra que a especulação de terras por empresas do agronegócio ligadas a corporações financeiras internacionais estimula processos de grilagem, desmatamento e aumento da violência contra comunidades rurais na região conhecida como Matopiba, entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O foco do relatório Empresas transnacionais do agronegócio causam violência, grilagem de terras e destruição no Cerrado é o sul do Piauí. O levantamento mostra que o capital financeiro está presente em todos os elos da cadeia produtiva da soja, o que inclui empresas de comercialização.
O documento destaca que altas nos preços internacionais de commodities têm influenciado a expansão do monocultivo da soja pelo mundo, e o Matopiba é o principal foco. Nesse contexto, a terra passa a ser ativo financeiro para empresas imobiliárias e serve como mecanismo para rolagem de dívidas de produtores da região com empresas do agronegócio.
O coordenador de projetos da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Fábio Pitta, que também atua como pesquisador departamento de geografia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Harvard, explica que a entidade atua junto às comunidades locais e às diferentes instâncias de governo para tentar mudar o cenário a partir da conscientização sobre os riscos representados pelo atual modelo.
"Quando tem uma queda no preço da soja, a gente vê que no ano seguinte a área continua a aumentar mas não necessariamente a produção e produtividade (aumentam). Na região de fronteira há terras no limite da produtividade, em que os custos de produção ficam atraentes para o produtor de soja. Então, quando o preço cai muito, a gente vê até algumas áreas serem desativadas", disse ao Brasil de Fato.
O pesquisador explica que, na região, forjar fazendas a partir de desmatamento e grilagem de terras é relativamente barato em comparação com os custos de produção. Por isso, a produção de commodities (e a consequente especulação com terras) tem se direcionado para aquela região, já que a necessidade de expansão de terras é constante.
Como o relatório tem foco no sul do Piauí, o texto cita algumas das empresas que atuam naquela região. Apesar disso, Pitta explica que a responsabilidade pelo problema não recai sobre um número limitado de companhias, mas sim pelo modelo de financeirização do capital.
"Isso se dá pela pelo condicionamento da expansão com relação aos preços de commodities dos mercados de futuros, e a terra [sendo] tratada como se fosse uma ação de empresa em Bolsa de Valores. Nesse sentido, o capital financeirizado está ali em todas as suas intermediações", complementa.
O relatório completo está disponível neste link.
Edição: Leandro Melito