Parlamentares anunciaram uma série de medidas para que órgãos investiguem as falas do pastor André Valadão durante uma pregação contra os direitos civis da comunidade LGBTQIA+. O discurso foi realizado nos EUA e transmitido pelas redes sociais.
André é filho de Márcio Valadão, principal liderança da Igreja Batista da Lagoinha e que se afastou formalmente de sua direção. A denominação, e em especial André, se tornou um símbolo da adesão de setores evangélicos à candidatura de Jair Bolsonaro (PL).
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) acionou o Ministério Público de Minas Gerais para que investigue as falas de Valadão e possível ocorrência de crime. De acordo com a parlamentar, a pregação significou a "incitação direta aos seus fiéis relacionada à morte de pessoas LGBTQIA+".
Essa é a segunda vez que ela aciona o órgão por conta de posicionamentos de André Valadão. Em 5 de junho, o pastor realizou uma postagem com a frase "Deus odeia o orgulho". Segundo a congressista, a mensagem se tratava de "evidente referência discriminatória à população LGBTQIA+".
Na mesma ocasião da postagem, o Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos também havia acionado o Ministério Público do Distrito Federal contra o religioso.
Já o senador Fabiano Contarato (PT-ES) protocolou representação ao Ministério Público Federal (MPF) por conta do discurso de André, pedindo que o pastor pague um valor de R$ 1 milhão como reparação a danos morais coletivos. Além disso, o pedido do parlamentar pede a prisão preventiva do líder religioso.
Nosso mandato foi ao MPF e pediu a prisão preventiva de André Valadão e a reparação no valor mínimo de R$ 1 milhão, por danos morais coletivos, pelo discurso de ódio e pela conduta que não se restringiu a uma pessoa determinada, mas a todo o grupo de pessoas LGBTQIA+. pic.twitter.com/SL4CDdBZIo
— Fabiano Contarato (@ContaratoSenado) July 4, 2023
O deputado distrital Fábio Felix (PSOL) também denunciou o religioso ao Ministério Público.
A reação ao discurso de Valadão transcendeu os limites da política. Xuxa Meneghel foi um dos exemplos de celebridades que criticaram as falas. "Alguém tem que parar esse homem (ou sei la o que ele é), gente. Ele tá mandando as pessoas matarem as outras", escreveu ela.
A fala
André Valadão afirmou que a concessão de direitos civis à população LGBTQIA+, principalmente a possibilidade de união civil, resultou no aumento da imoralidade na sociedade brasileira. Em seguida, fez referência a supostos desejos de Deus em relação a essas pessoas, o que incluiria a morte. No último período, o combate aos direitos da população LGBTQIA+ é uma dos temas mais frequentes pelos quais Valadão aparece no debate público.
"Deus fala que não pode mais. Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês", afirmou o pastor durante sua pregação, cujo título era "Teoria da Conspiração-Censura Não". O trecho faz referência à história de Noé, na qual Deus teria dizimado a humanidade por conta de seus desvios. Na narrativa, o arco-íris seria um sinal dado à humanidade de que o extermínio não seria realizado novamente.
O pastor foi um dos mais ativos durante a campanha eleitoral de 2022. No período, o religioso afirmou que foi obrigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a se retratar por acusações falsas contra a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Corte nega que tenha intimado Valadão.
A proximidade com o bolsonarismo fez com que após a repercussão do caso, políticos da extrema direita tenham saído em defesa de Valadão. Flávio Bolsonaro, por exemplo, afirmou que a "perseguição chegou à igreja".
Após a repercussão de seu discurso, André Valadão negou que tenha sugerido a morte de pessoas LGBTQIA+. "Nunca será sobre matar, segregar, mas sim sobre resetar", escreveu ele em um perfil de rede social.
Edição: Rodrigo Durão Coelho