Motim do Wagner

Bielorrússia vai incorporar 'experiência' militar do Wagner; vizinhos falam em 'ameaça'

Presidente bielorrusso foi o mediador do acordo que pôs fim ao motim do grupo paramilitar russo

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Membros do grupo Wagner se preparam para deixar o quartel-general do Distrito Militar do Sul para retornar à sua base em Rostov. - ROMAN ROMOKHOV / AFP

O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, declarou na última terça-feira (27) que planeja adotar a experiência do batalhão Wagner no campo de operações militares defensivas e ofensivas.

O líder bielorrusso chamou a atenção para o fato de que agora se fala muito sobre o grupo paramilitar Wagner por conta do motim que o seu líder Yevgueny Prigozhin realizou na Rússia, e, segundo Lukashenko, as pessoas não entendem que as autoridades bielorrussas são pragmáticas sobre o assunto e planejam usar a experiência de combate dos mercenários do Wagner.

"Vão nos dizer o que é importante agora. Da última vez, Putin me disse: o combate anti-bateria sem eles é impossível. Drones. Eles passaram por isso também. Eles falarão sobre armas: quais funcionaram bem, quais não. E táticas e armas e como atacar, como defender. Não tem custo. É isso que precisamos tirar dos 'wagneritas'", acrescentou o presidente.

Leia também: Após rebelião, Putin exalta 'união' do povo russo e indica o futuro dos combatentes do Wagner

Alexander Lukashenko foi o responsável por mediar a resolução da crise que se instaurou na Rússia com o motim liderado por Prigozhin, que no último sábado (24) anunciou a tomada da administração militar da cidade de Rostov e uma "marcha para Moscou" após acusar o Ministério da Defesa russo de atacar suas bases na véspera.

Após um acordo mediado por Lukashenko, Prigozhin anunciou o recuou e o retorno para as bases do Wagner para "evitar o derramamento de sangue russo". Em contrapartida, foram oferecidas "garantias de segurança" ao grupo paramilitar e sua retirada para Bielorrússia.

Na noite de 24 de junho, após o resultado das negociações, foi informado também que o processo criminal contra Prigozhin sobre um motim militar seria encerrado e ele próprio "partiria para a Bielorrússia".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, informou que Putin e Lukashenko concordaram que o presidente bielorrusso iria mediar a situação. De acordo com ele, "Alexander Grigoryevich [Lukashenko] conhece Prigozhin pessoalmente há muito tempo, cerca de 20 anos, e foi sua proposta de iniciativa pessoal, que foi acordada com o presidente Putin".

Ameaça a países da OTAN?

O presidente polonês, Andrzej Duda, manifestou uma preocupação de que a presença de mercenários do Wagner PMC na Bielorrússia possa ameaçar os países vizinhos.

A Bielorrússia faz fronteira com a Polônia, Lituânia e Letônia, e agora, segundo Duda, os mercenários podem representar uma ameaça para esses países.

"Surge a pergunta: qual é o propósito desse movimento? Quais são as reais intenções do grupo Wagner, ou seja, do exército russo, especificamente na Bielorrússia? Esta é uma forma de ameaça potencial especificamente para nossos países, países da OTAN, Polônia", disse o presidente polonês durante sua visita a Kiev.

Leia também: 'Ucrânia não é mais soberana, paz só virá quando EUA quiserem', afirma presidente da Hungria

Ao mesmo tempo, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky observou que não vê uma grande ameaça na presença de mercenários russos na Bielorrússia.

"Não posso dizer o quanto eles vão ameaçar alguém no território da Bielorrússia, porque acho que esse contingente não será muito grande", disse Zelensky.

Edição: Nicolau Soares