“A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável”. Foi dessa forma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se referiu, durante entrevista coletiva concedida em Roma nessa quinta-feira (22), ao documento enviado em março pelos europeus, no âmbito das discussões sobre o acordo de livre comércio entre os dois blocos econômicos, que prevê sanções aos países que não cumprirem as metas ambientais definidas no Acordo de Paris.
“Nem eles cumpriram o acordo de Paris. Os países ricos não cumpriram o acordo de Paris, o protocolo de Quioto, a decisão de Copenhague”, afirmou, referindo-se às decisões tomadas nos últimos fóruns internacionais de debate sobre questões climáticas. “Então é preciso ter mais sensibilidade e humildade. Estamos preparando nossa resposta e vamos ver se encontramos um jogo de ganha-ganha, e não de ganha-perde, ou de perde-perde”.
O acordo vem sendo debatido há mais de 20 anos e estagnou no passado recente, quando o desmatamento na Amazônia aumentou e a política ambiental do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assustou a Europa, uma vez que esse tema é uma bandeira fundamental para a Europa hoje.
Dez dias atrás, quando esteve com a presidente da Comissão Europeia (braço executivo da UE), Ursula von der Leyen, Lula já havia reclamado da carta adicional, ao afirmar que “a premissa que deve existir entre parceiros estratégicos é a da confiança mútua e não de desconfiança e sanções”. Dessa vez, em Roma, o presidente brasileiro subiu o tom da crítica.
“Estarei com o (presidente francês Emmanuel Macron) e vou conversar com ele, porque a França é muito dura na defesa dos seus interesses agrícolas. Acho maravilhoso que ele defenda sua agricultura, mas tem que entender que os outros têm o direito de defender as suas. É preciso que cada um abra mão do seu perfeccionismo, e do seu protecionismo também”.
Lula deu essa declaração após um dia intenso de encontros na capital italiana e em seguida embarcou para a França, onde participa da Cúpula sobre o Novo Pacto Global de Financiamento e terá encontro bilateral com Macron.
Em Roma, Lula esteve com a primeira-ministra Georgia Meloni, o presidente Sergio Mattarella, o papa Francisco, o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, entre outras figuras da política local. O presidente brasileiro disse ter ficado surpreso ao saber que nem a primeira-ministra nem o presidente conhecem o Brasil e declarou que isso é “no mínimo estranho” uma vez que no Brasil vivem 30 milhões de italianos e descendentes. “Por isso convidei os dois para visitarem o Brasil”.
O Brasil, lembrou Lula, será o próximo presidente do G20 e a Itália, do G7, “então teremos a oportunidade de aperfeiçoar não apenas a relação Brasil-Itália, mas também de criar uma relação mais moderna, mais civilizada entre União Europeia e América Latina”.
Edição: Thales Schmidt