A viagem à Europa desta semana tem como objetivo principal sedimentar a participação do Brasil como protagonista nos debates sobre aquecimento global, desenvolvimento sustentável e todos os temas que orbitam ao redor da questão das mudanças climáticas. Foi o que afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, nessa quarta-feira (21).
“Minha viagem [à Europa] foi de recolocar o Brasil no centro das discussões sobre a questão climática no mundo”, disse o presidente brasileiro. Ele enfatizou também que o Brasil tem uma matriz energética que é, “possivelmente, a mais limpa do mundo” e reiterou o compromisso de “zerar o desmatamento na Amazônia até 2030”. Lula tem dito com frequência que, de toda a energia consumida no Brasil, 87% provém de fontes renováveis, ante um percentual mundial de 50%.
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Na ocasião, o presidente explicou também que a visita teve o objetivo de expressar gratidão pela “lealdade, solidariedade e comportamento” de Gualtieri quando Lula estava detido na Polícia Federal, em Curitiba. “Espero um dia poder retribuir todos os gestos de solidariedade que ele fez a mim e ao Brasil durante aquele período difícil”.
Gualtieri falou da importância do papel que o Brasil pode ter nos temas mais relevantes do mundo de hoje, como “transição ecológica, mudanças climáticas, a exigência de unir à sustentabilidade climática a luta pela equidade social, por uma governança mundial mais democrática e multilateral”. Declarou ainda que encontrar Lula foi uma “verdadeira felicidade” e que o presidente brasileiro é “um ponto de referência pra mim, para o governo de Roma e para todos os progressistas do mundo, numa perspectiva de um desenvolvimento mais justo e sustentável”. O prefeito de Roma é filiado ao Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.
Progressistas unidos
Durante a passagem por Roma, Lula participou de outros encontros com lideranças políticas da centro-esquerda italiana. No hotel em que está hospedado, foram recebidos o ex-premiê Massimo D'Alema (1998-2000) e a secretária-geral do PD, Elly Schlein, principal nome da oposição. Com D'Alema, a conversa, de forma privada, teria girado em torno de temas como democracia e busca pela paz. Em seguida, o presidente brasileiro recebeu uma delegação do PD, com Schlein e Fabio Porta, deputado italiano eleito pela comunidade que vive no Brasil. Foram abordados assuntos de política externa e das relações entre Itália e Brasil.
Durante o pronunciamento ao lado de Roberto Gualtieri, Lula afirmou que não responderia perguntas dos jornalistas, pois para isso haverá uma entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (22). Na ocasião, o presidente deverá ser questionado sobre como foram os encontros com o Papa Francisco, o presidente Sergio Mattarella e a primeira-ministra Georgia Meloni, uma líder da ultradireita.
Meloni, que condenou os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, e parabenizou Lula pela vitória na eleição de 2022 — embora não tenha enviado nenhum representante à posse — tinha uma postura mais agressiva em relação ao presidente brasileiro antes de virar primeira-ministra. Ela fez uma série de críticas públicas, especialmente em função do caso do militante italiano Cesare Battista, condenado pela Justiça italiana e beneficiado por uma decisão de Lula, que lhe concedeu refúgio político, numa decisão que criou atritos com a Itália, que pedia a extradição. Meloni também celebrou a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, dizendo que a esquerda estava sendo “derrotada em todo o planeta e pela história” e que os povos estavam “recuperando sua liberdade e soberania”.
Questionado sobre a expectativa para encontrar Meloni, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, o presidente brasileiro disse que esperava conhecê-la melhor e reforçar o laço entre os dois países. “Nossas relações econômicas estão aquém do seu potencial e devemos trabalhar duro para estabelecermos um relacionamento à altura das nossas economias”.
Relações bilaterais
O Brasil tem a maior colônia de italianos e descendentes no mundo, com cerca de 30 milhões de pessoas. A comunidade de brasileiros em território italiano também é grande, cerca de 100 mil pessoas. Os dois países assinaram um acordo de Parceria Estratégica em 2007, durante o segundo mandato do presidente Lula. Em 2010, entrou em vigor um Plano de Ação que destacava 16 áreas-chave de cooperação entre Brasil e Itália.
No comércio exterior, o volume de negócios entre os países chegou a US$ 10,46 bilhões em 2022. As exportações do Brasil para a Itália somaram quase US$ 4,9 bilhões, fazendo do país europeu o 15º principal destino para produtos brasileiros. Já as importações foram da ordem de US$ 5,5 bilhões, o sétimo maior volume mundial de compras feitas pelo Brasil.
Os principais produtos brasileiros exportados para a Itália foram: celulose (17%), café (17%), petróleo cru (6,8%), soja (6,7%) e minério de ferro (6,3%). Os produtos italianos mais importados pelo Brasil foram peças e acessórios de veículos (7,3%), produtos farmacêuticos (6,8%), medicamentos (5,6%), produtos industrializados (4,8%) e motores (4,3%).
* Com informações da Folha de S.Paulo e do Itamaraty.
Edição: Thales Schmidt