Milhares de colombianos foram às ruas em diversas regiões do país nesta quarta-feira (07) para apoiar o governo do presidente Gustavo Petro. A convocatória feita por movimentos populares e partidos ocorre em meio a uma crise vivida pelo mandatário de esquerda, classificada pelo governo como uma tentativa de "golpe suave".
Segundo o governo, marchas a favor de Petro foram registradas em ao menos 200 cidades diferentes, entre elas as principais do país como Medellín, Cali, Barranquilla e a capital, Bogotá.
Foi ali que Petro, acompanhado da vice-presidenta Francia Márquez e de alguns ministros, participou do ato e discursou a uma multidão de apoiadores reunidos na Praça de Bolívar. O presidente voltou a denunciar uma tentativa de golpe contra seu governo e disse que o povo se mobilizava para exigir a aprovação das reformas da saúde, trabalhista e da previdência apresentadas pelo governo ao Congresso.
"Há pessoas que ainda não entenderam o que significou a decisão eleitoral do ano passado. Acham que foi um delírio que já passou e deixou um presidente abandonado no palácio. Então hoje dizemos com toda clareza: não foi assim. O povo que elegeu o presidente segue com o presidente e ambos querem colocar em prática o programa que foi eleito", disse.
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A crise vivida pelo governo teve início ainda em abril, quando alguns partidos de centro e centro-direita romperam com a coalizão que levou Petro à Presidência, o Pacto Histórico. O movimento ocorreu em meio às tentativas opositoras de impor travas às reformas do governo no Legislativo e obrigou o presidente a reformular seu gabinete de ministros.
Com o rompimento interno na coalizão, Petro ficou sem base de apoio para aprovar as reformas propostas. Além disso, ações judiciais do Ministério Público e da Procuradoria-Geral começaram a ser movidas contra parlamentares do Pacto Histórico, o que levou o governo a entrar em choque com o judiciário após denunciar que os casos se tratam de "politização da justiça".
Durante seu discurso desta quarta-feira, Petro buscou vincular as reformas de seu governo ao projeto político apresentado por ele na campanha e disse que estaria aberto a discutir mudanças nas propostas, "mas nenhuma que afete as garantias dos direitos do povo".
"Vamos exigir de forma respeitosa que o Congresso aprove essas reformas, mas que saibam que respeito não é debilidade, saibam que o povo não abandonou o governo, que o povo segue de pé na luta por justiça e paz", afirmou.
'Querem me prender e dar um golpe na Colômbia'
O último caso que ampliou a crise no governo ocorreu na semana passada, quando Petro exigiu a renúncia de sua chefe de Gabinete, Laura Sarabia, e do embaixador colombiano na Venezuela, Armando Benedetti, que havia sido seu chefe de campanha eleitoral.
Anunciadas na última sexta-feira (02), as demissões de Sarabia e Benedetti vêm em meio a ameaças trocadas por ambos que envolvem supostas escutas telefônicas, roubo de dólares e doações de campanha. O MP já anunciou abertura de investigações.
Diante da reação da Justiça, Petro disse que o governo não cometeu nenhuma irregularidade e que não aceitaria ser "chantageado".
Nesta quarta-feira, diante de apoiadores, o presidente voltou a denunciar a tentativa de golpe, culpando setores da imprensa do "grande capital". O presidente ainda disse que o plano envolveria prendê-lo e substituí-lo por um presidente "sem respaldo eleitoral e popular".
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"Eles querem construir desconfiança nas bases populares com um primeiro objetivo de travar as reformas no Congresso e ajoelhar o Congresso ao grande capital. Um segundo objetivo, uma vez derrubada as reformas, eles pensam em [...] fazer o mesmo que fizeram no Peru, ou seja, levar o presidente à prisão e trocá-lo por um presidente que não foi eleito", disse.
Petro ainda afirmou que "isso se chama um golpe suave, um golpe contra a vontade popular". "Pedro Castillo [ex-presidente peruano] estava sozinho, mas aqui dizemos a quem está tramando essa estratégia: Petro não está sozinho. Se atrevam a violar o mandato popular, o povo da Colômbia sairá de cada rincão do país para defendê-lo".
Novo embaixador na Venezuela
Em meio à crise e após a saída de Benedetti, o governo colombiano já nomeou um novo embaixador para a Venezuela. Milton Rengifo Hernández já recebeu beneplácito de Caracas e deve assumir o cargo em breve.
Ex-funcionário de Petro quando o presidente foi prefeito de Bogotá, Hernández não tem carreira diplomática. Ele foi Subsecretário de Assuntos Locais e Desenvolvimento Cidadão durante a gestão Petro na capital e atualmente ocupava o posto de diretor de gestão comunitária da empresa pública Acueducto y Alcantarillado de Bogotá.
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Além disso, segundo a emissora colombiana Caracol TV, Henández era crítico ao governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Em uma série de tuites recuperados pela emissora que datam de 2017, o novo embaixador acusava o mandatário do país vizinho de "corrupção" e o criticava por sua ação frente aos protestos da oposição que ocorreram naquele ano e ficaram conhecidos como "guarimbas".
Apesar das críticas por sua pouca experiência e por seus comentários sobre Maduro, Rengifo Hernández foi elogiado pelo chanceler colombiano, Álvaro Leyva, que o classificou como "um homem muito preparado, muito sereno, que será um ótimo embaixador".
Edição: Thales Schmidt