Depois de dois dias de trabalhos em Montevideu, figuras da política e da diplomacia da América do Sul elaboraram um comunicado que foi entregue aos presidentes dos países do bloco, que estão reunidos em Brasília nesta terça-feira (30).
O "Coloquio Montevideo por la Integración Suramericana", organizado pelo Instituto Novos Paradigmas e a Fundação Chile 21, realizou um evento de abertura, com as presenças dos ex-presidentes Pepe Mujica (Uruguai) e Ernesto Samper (Colômbia), e mais três mesas de debates sobre integração: a primeira abordou o ponto de vista empresarial e da cooperação científico-técnica, a segunda sobre o mundo do trabalho e o terceiro sobre uma nova institucionalidade política.
O ex-presidente da Colômbia e ex-secretário da Unasul, Ernesto Samper, se disse "moderadamente otimista" com as perspectivas do bloco. "Todos estamos de acordo sobre a necessidade de integração, porém, temos opiniões distintas de quais devem ser as premissas para integrar”, destacou.
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Segundo ele, é preciso pensar a América do Sul a partir de uma visão de construção da integração. “Construir a região. E construir a região é construir a infraestrutura, construir a região é ter mecanismos para estruturar uma estratégia conjunta de Defesa, através de um Conselho Sul-americano de Defesa, construir a região é estimular a mobilidade das pessoas e elaborar um conceito de cidadania que trate do tema dos imigrantes."
Para Pepe Mujica, é preciso criar uma mística de comunidade. "Esse não é um trabalho de hoje para amanhã. É um trabalho para uma geração. Temos que pensar em uma estratégia de 25, 30 anos, porque temos que criar uma nova cultura. Temos que ter um novo nome, um nome que nos identifique”, acredita.
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O ex-presidente do Uruguai afirma que nos definiram como latino-americanos, o que deixou os povos indígenas de fora. “Deixamos de fora também os negros, que tiveram seu povo arrancado da África. Precisamos de um nome nosso, que contemple todos, que seja integrador. Temos que colocar coração e mística no nosso povo. Não há negócio que dure, não há nenhuma relação econômica estável entre países, se não estiver tudo respaldado por uma construção civilizatória."
Participantes defendem uma agenda de integração que enfrente as desigualdades
A ex-senadora uruguaia Mónica Xavier, que esteve na organização das atividades, ressaltou que é necessário enfrentar todas as formas de desigualdades presentes no continente. "Precisamos de uma agenda de integração que enfrente as desigualdades estruturais da nossa região. As desigualdades de gênero, as desigualdades étnico-raciais, as condições econômicas e sociais, além da territorial, são quatro elementos que precisam estar na perspectiva de uma nova integração. Não podemos caminhar e depois nos darmos conta que isso não está contemplado. Isso precisa estar na agenda."
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Também organizador do Colóquio, o diretor do Instituto Novos Paradigmas Jorge Branco informa que o encontro de Montevideu atualiza a carta de ex-presidentes divulgada em novembro do ano passado que, dirigida aos novos governantes democratas da região, faz uma forte defesa da integração sul-americana. “A retomada do processo de integração é um caminho necessário para que os países da região tenham peso político no cenário internacional e estabeleçam condições e estratégias mais eficazes para o desenvolvimento e superação do quadro adverso da atualidade, para isso é necessário unir e respeitar a cada um deles.”
Já o presidente do Instituto Novos Paradigmas, Tarso Genro, falou da importância de um novo processo de integração ser estruturante para a estabilidade democrática da região. "A segurança democrática é a questão fundamental da integração. Recentemente, vários países enfrentaram novas formas de ruptura da democracia”, lembrou.
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Tarso destacou o tema da segurança e insegurança. Segundo ele, a insegurança é por onde pode prosperar o fascismo e a violência. “A segurança democrática é o campo para prosperar o debate de ideias e as concertações políticas que nos levarão adiante. Precisamos fazer um chamamento em busca da utopia, de forma processual, de forma pensada e articulada politicamente."
O presidente honorário da Fundação Chile 21, Carlos Ominami, falou sobre o documento que será entregue aos presidentes. "A grande questão é que há uma vontade de sair da desunião e começar a construir um novo espaço e esperamos que o retiro convocado pelo presidente Lula abra um caminho onde os governantes, além de suas diferenças políticas, podem caminhar na mesma direção."
Ainda participaram das atividades o ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, e o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Santiago Cafiero.
Confira a versão em português do comunicado elaborado em Montevideu
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko