O novo embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, entregou na tarde desta quarta-feira (24) suas credenciais diplomáticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em ato que formalizou o restabelecimento de relações entre os dois países.
Vadell havia sido nomeado pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ainda em dezembro de 2022, antes mesmo da posse de Lula. Após a cerimônia, Maduro afirmou que a normalização de relações entre Brasil e Venezuela é "um grande passo" que constitui "um novo ponto de partida para a consolidação da união entre ambos povos irmãos".
A presença de um novo embaixador venezuelano no Brasil encerra um período de três anos em que o país vizinho não teve seus representantes diplomáticos reconhecidos pelo governo brasileiro. Isso porque o governo anterior do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia decidido reconhecer o governo paralelo de Juan Guaidó e, por consequência, seus aliados como diplomatas legítimos.
::O que está acontecendo na Venezuela::
A chegada de Lula à Presidência colocou fim a uma política de hostilidades contra Caracas iniciada pelo governo Bolsonaro, que incluiu o fechamento da embaixada brasileira na Venezuela e a expulsão de diplomatas venezuelanos no Brasil.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano afirmou que a vitória de Lula nas eleições "permitiu o restabelecimento das relações diplomáticas direcionadas pela luta por uma nova ordem mundial baseada no respeito à autodeterminação dos povos".
::Guaidó foi abominável para a democracia na Venezuela, diz Lula::
O Brasil, por sua vez, mantém desde janeiro um encarregado de negócios na Venezuela para reabrir a embaixada e reativar os serviços consulares. O diplomata Flávio Macieira conversou com exclusividade com o Brasil de Fato em março e defendeu a reaproximação entre os dois países.
Visita da Agência Brasileira de Cooperação
Na última quarta-feira (17), uma delegação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) visitou a Venezuela, marcando a primeira visita técnica de membros do governo brasileiro desde o início do mandato do novo governo petista. A missão era formada por representantes de diversos órgãos técnicos brasileiros que se reuniram com seus homólogos venezuelanos para discutir a situação dos acordos existentes entre os países.
O grupo foi chefiado pelo diretor da ABC, Ruy Pereira, que foi último embaixador do Brasil na Venezuela. Pereira foi declarado persona non grata por Caracas no final de 2017 e foi expulso do país. À época, o governo venezuelano justificou a decisão argumentando que a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff era inconstitucional e que, portanto, não poderia manter um embaixador de um governo considerado ilegítimo.
::Cúpula na Colômbia atrai EUA e UE, mas alívio imediato de sanções à Venezuela é improvável::
Durante a visita, na última quinta-feira (18), Pereira foi recebido pelo presidente Nicolás Maduro e também se reuniu com a vice-presidente, Delcy Rodríguez, e com o chanceler venezuelano, Yván Gil.
Fontes do governo brasileiro ouvidas pelo Brasil de Fato afirmaram que a visita serviu para revisar acordos já existentes entre Brasil e Venezuela e, possivelmente, elaborar novos convênios. Ainda segundo as fontes consultadas pela reportagem, a expectativa é de que nos próximos dias, o presidente Nicolás Maduro visite o Brasil para participar da reunião entre presidentes sul-americanos no dia 30 de maio e, durante uma reunião com Lula, ambos assinem um primeiro memorando para o restabelecimento de acordos de cooperação.
Edição: Thales Schmidt