Guerra

Chefe do grupo Wagner diz que objetivos da operação russa na Ucrânia estão fracassando

Prigozhin elogia exército ucraniano, sugere radicalização do estado de guerra e ataca lideranças militares da Rússia

Rio de Janeiro |
Chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, segura uma bandeira russa na frente de seus soldados em Bakhmut, em 20 de maio de 2023 - Telegram / Concord Group / AFP

O chefe do batalhão militar privado russo "Wagner", Yevgueny Prigozhin, em uma longa entrevista divulgada nesta segunda-feira (24), voltou a fazer fortes ataques contra o Ministério da Defesa e chegou a colocar em xeque o andamento da operação militar russa na Ucrânia. 

A entrevista foi concedida ao estrategista político pró-Kremlin, Konstantin Dolgov, e veiculada na íntegra no canal do Telegram do serviço de imprensa de Prigozhin. Logo no início da conversa, que durou mais de uma hora, o entrevistador agradece a Prigozhin por concordar a responder "perguntas duras e difíceis que poucos estão dispostos a responder". 

Ao citar os objetivos iniciais que o Kremlin usou para justificar a guerra na Ucrânia - "desnazificação" e "desmilitarização" -, Yevgueny Prigozhin afirmou que a Rússia conseguiu o efeito oposto. 

"Viemos de maneira brusca, andamos com nossas botas por todo o território da Ucrânia em busca dos nazistas. Enquanto procurávamos os nazistas, devastamos o que pudemos. Nós nos aproximamos de Kiev, fracassamos e recuamos. Fomos mais para Kherson: fracassamos e recuamos. E de alguma forma nada dá certo para nós", destaca.  

"Tudo foi feito em prol da 'desnazificação' e fizemos da Ucrânia uma nação conhecida em todo o mundo", acrescentou o fundador do grupo paramilitar.

Em relação à desmilitarização, Yevgueny Prigozhin declarou que o exército ucraniano acabou se tornando "um dos mais fortes do mundo". 

"Eles têm um alto nível de organização, alto nível de treinamento, alto nível de inteligência, possuem várias armas e, além disso, trabalham em qualquer sistema, soviético, da Otan, qualquer que seja, igualmente de forma bem-sucedida", disse o empresário.

O fundador do grupo Wagner também comentou as recentes batalhas na região russa de Belgorod, que sofreu incursões de grupos de sabotagem ucranianos no último fim de semana. Prigozhin admitiu que a defesa da Federação Russa não está pronta para neutralizar tais ataques: "Onde está a garantia de que eles não chegarão em Moscou amanhã?", disse. 

As duras falas de Prigozhin sobre a condução da campanha russa na Ucrânia ocorreram um dia após o presidente Vladimir Putin elogiar publicamente o grupo Wagner pela tomada da cidade de Bakhmut. 

No último sábado, Prigozhin declarou que seus homens haviam capturado a cidade de Bakhmut após "224 dias de luta". Kiev negou que a Rússia tenha tomado o controle da região, alegando as forças ucranianas estão cercando a região.

Ao mesmo tempo, os ataques do chefe do batalhão paramilitar evitam atingir Putin e têm como alvos figuras do alto comando militar russo, em particular o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o comandante das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov. 

Nesse contexto de críticas à operação russa e ataques ao alto comando militar, Prigozhin sugeriu radicalizar a instauração de um estado de guerra para conseguir êxito na guerra da Ucrânia. 

"Devemos introduzir a lei marcial, devemos anunciar novas ondas de mobilização, devemos nos voltar ao máximo possível para a produção de munição. Devemos parar de construir novas estradas, novas infraestruturas e trabalhar apenas para a guerra", afirmou. 

Ele ainda disse que, para não fracassar na Ucrânia, a Rússia deve se espelhar na Coreia do Norte pelos próximos anos no sentido de "fechar todas as fronteiras" e "levar todos os seus jovens do exterior e trabalhar duro".

"Meu credo político: amo minha pátria, obedeço a Putin, não me importo com [o ministro da Defesa] Shoigu, continuaremos lutando", concluiu. 

Edição: Thales Schmidt