A expectativa de uma contraofensiva ucraniana na guerra com a Rússia se arrasta há meses sem que ainda haja uma alteração drástica no campo de batalha. Na semana passada, o presidente Volodymyr Zelensky declarou que o país precisa de mais tempo para dar início à “esperada contraofensiva”.
De acordo com ele, as Forças Armadas da Ucrânia estão esperando o prometido fornecimento de armas ocidentais para contra-atacar Moscou e tentar retomar territórios do leste do país. A cúpula do G7 neste fim de semana pode concretizar esta expectativa.
Por outro lado, o chefe do grupo paramilitar Wagner, Evgueny Prigozhin, que lidera a frente de batalha russa em Bakhmut, declarou anteriormente que, na prática, as tropas ucranianas iniciaram sua contra-ofensiva. A mesma repercussão se deu nos principais canais de propagandistas militares pró-Kremlin, que, na semana passada, disseminaram informações de que a aguardada contraofensiva da Ucrânia teria começado, relatando um cerco das forças russas na direção de Bakhmut, e o rompimento das defesas perto da cidade de Soledar.
A intensidade dos rumores no espaço midiático russo levou o Ministério da Defesa a refutar que uma contraofensiva ucraniana estaria tendo êxito. De acordo com a pasta, “as declarações divulgadas por canais individuais do telegram sobre avanços em várias partes da linha de contato não correspondem à realidade”.
Já o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse na última quinta-feira (18) que as operações militares na Ucrânia estão sendo conduzidas "intensivamente" em diferentes partes da linha de frente. No entanto, ele afirmou que é muito cedo para falar sobre o início de uma contraofensiva em grande escala das Forças Armadas da Ucrânia.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o analista do centro de pesquisas Ucrânia Unida, Aleksei Kushch, afirmou que as declarações oficiais no âmbito da guerra sempre carregam um caráter propagandístico e, em relação à expectativa de uma contraofensiva ucraniana, a guerra informacional antecede a iniciativa militar. Segundo ele, as mais diversas declarações oficiais do lado ucraniano, por exemplo, tem como objetivo a “disseminação de certo pânico nas divisões do exército russo e nas elites políticas da Rússia”.
“Tudo isso é instrumento de uma ofensiva informacional. Então é claro que ninguém vai anunciar nenhuma data específica. O máximo que podemos dizer é que o presidente [Volodymyr] Zelensky, quando perguntado sobre a contraofensiva, disse claramente que a Ucrânia está se preparando para essa contraofensiva e ela acontecerá, porque a libertação dos territórios ocupados pela Rússia para a Ucrânia hoje representa parte da ideia nacional ucraniana. Por isso é claro que todos os recursos econômicos, todos os recursos da sociedade, estão voltados para que a integridade territorial do país seja restabelecida”, destacou.
De acordo com o pesquisador, o fator determinante para a viabilidade de uma contraofensiva de grande escala é a disparidade do potencial econômico dos países em conflito: “A guerra é sempre uma luta de potenciais econômicos, porque o potencial militar na verdade é resultado do potencial econômico-industrial”, argumente.
Dessa forma, Aleksei Kushch observa que, à primeira vista, o potencial econômico russo é maior do que da Ucrânia, mas tal análise gera distorções, pois é preciso levar em conta a cobertura que Kiev recebe dos países aliados.
“Nós vemos que os complexos industriais militares dos países aliados que estão apoiando a Ucrânia hoje estão trabalhando no fornecimento de equipamento militar e munições ao exército ucraniano, e consequentemente a cobertura da Ucrânia do ponto de vista complexo industrial reside justamente na economia destes países aliados”, afirma.
G7 pode determinar “estopim” para contraofensiva
A recente turnê do líder ucraniano na Europa renovou as expectativas para o início da contraofensiva com a promessa de novos armamentos por parte dos aliados ocidentais à Ucrânia. Durante sua visita a Berlim, ao ser questionado por jornalistas se conseguiu o fornecimento de armas suficientes para lançar a ofensiva, Zelensky respondeu brevemente: “Mais algumas visitas e pronto”.
Ele também afirmou que a Ucrânia está trabalhando para criar uma "coalizão de caças", se referindo à busca do fornecimento de aviação dos países parceiros para fortalecer sua força de combate.
Na sexta-feira (19), no início da cúpula do G7, foi relatado que o presidente dos EUA, Joe Biden, confirmou a participação de Washington na iniciativa de treinar pilotos ucranianos em caças de quarta geração, incluindo o F-16. A informação foi divulgada por uma fonte da Casa Branca, segundo a qual Joe Biden já teria informado a outros líderes que do G7 sobre sua decisão. Zelensky celebrou a informação do apoio da Casa Branca.
“Eu saúdo a decisão histórica do presidente dos EUA em apoiar uma coalizão internacional de caças. Isso aumentará muito nosso exército no céu. Conto com a discussão da implementação prática dessa decisão na cúpula do G7 em Hiroshima”, publicou Zelensky no Twitter.
O aumento da pressão sobre a Rússia é um dos principais motes da cúpula do G7. No primeiro dia do encontro, na sexta-feira (19), os líderes do grupo concordaram em ampliar as sanções contra a Rússia. Também foi renovado também o compromisso do Ocidente de fornecer ajuda militar e financeira a Kiev.
"Hoje estamos tomando novas medidas para garantir que a agressão ilegal da Rússia contra o Estado soberano da Ucrânia fracasse e para apoiar o povo ucraniano em sua busca por uma paz justa enraizada no respeito pelas leis internacionais", diz o comunicado.
O analista Aleksei Kushch lembra que o histórico da ajuda militar do Ocidente à Ucrânia desde o início da intervenção russa foi sofrendo gradações do tipo de equipamento militar que os países aliados estavam dispostos a fornecer.
Essas “onda de ajuda militar” foram crescendo das munições de artilharia, sistemas de defesa áreas, chegando ao fornecimento de armas ofensivas como tanques, drones e mísseis de médio alcance. “Agora, está claro que a próxima onda será de fornecimento de aviação”, completa.
Também na sexta-feira (18), ao falar sobre a participação de Zelensky na cúpula do G7, o chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, Andriy Yermak, confirmou que Zelensky se encontrará com o presidente dos EUA, Joe Biden, e discutirá a criação da "coalizão de caças" internacional.
"Hoje podemos dizer oficialmente sobre a criação de uma coalizão de aeronaves, e isso sugere que a Ucrânia em breve terá tudo o que é necessário para proteger nossos céus ucranianos, nossas cidades e nossos cidadãos", completou Yermak.
Ao que tudo indica, a cúpula do G7 pode dar ao presidente Volodymyr Zelensky o que falta para a Ucrânia concretizar o início da prometida contraofensiva de larga escala contra a Rússia.
Edição: Rodrigo Durão Coelho