Na Europa

Em Portugal, Lula insiste em diálogo por paz na Ucrânia e por nova governança global

Lula é recebido por presidente e defende nova governança global, para avançar em negociações de clima e de paz

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Lula é recebido com honras militares pelo presidente de Portugal - Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido neste sábado (22) pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. A abertura dos compromissos oficias do chefe de Estado brasileiro começou com recepção pelo colega português em frente ao Mosteiro dos Jerônimos, com honras militares. No mosteiro, Lula levou flores para homenagear o escritor português Luís de Camões. Em seguida, no Palácio Nacional de Belém, residência oficial do presidente, Lula e Rebelo de Sousa fizeram reunião seguida de conferência de imprensa.

Assista à integra da entrevista de Lula em Portugal

A guerra na Ucrânia voltou a estar no foco das perguntas, e Lula foi novamente cobrado se mantém a opinião de que Estados Unidos e Europa, Portugal incluso, também são responsáveis pela guerra. O presidente reiterou que a posição brasileira, de condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia já foi expressada na ONU. E também repetiu que quem não fala em paz contribui para a guerra.

Como exemplo, lembrou que a Alemanha pediu ao Brasil armamentos para fornecer a aliados da Ucrânia e recusou. Desse modo, criticou indiretamente os países europeus que, em vez de buscar o diálogo, estimulam o conflito abastecendo-o com armamentos, munições e forças militares.

“Veja, se você não fala em paz, você contribui para a guerra. Eu vou te contar um caso: o chanceler Olaf Scholz foi pedir ao Brasil que vendesse mísseis para que ele doasse à Ucrânia. O Brasil se recusou a vender, porque se a gente vendesse o Brasil estaria na guerra. E o Brasil não quer participar da guerra. O Brasil quer construir a paz”, declarou o presidente Lula.

O presidente, então, acentuou a condenação à invasão territorial da Ucrânia. Mas novamente criticou a ausência de esforços de todas as partes envolvidas em interromper o conflito para se negociar a paz.

Assim, ressaltou que “não somos favoráveis à guerra”. “O Brasil quer encontrar um jeito de estabelecer a paz entre Rússia e Ucrânia, não quer participar na guerra. O Brasil quer encontrar um grupo de pessoas que se disponha a gastar um pouco do seu tempo a conversar com quem prega pela paz para fazer a paz”, insistiu.

“A Rússia não quer parar, a Ucrânia não quer parar”, afirmou, reiterando que só é possível negociar a paz com ajuda de outros países. “É melhor encontrar saída à volta de uma mesa do que continuar a tentar encontrar uma saída no campo de batalha.”

Nova governança

Na questão ambiental, Lula defendeu o esforço pela formação de uma nova governança global que comece a exigir dos países, sobretudo os mais desenvolvidos, o cumprimentos dos diversos acordos do clima já celebrados. “Se você não tiver uma governança forte para exigir o cumprimento das decisões, a gente só vai a reuniões e toma decisões. E no ano seguinte a gente faz outra reunião, toma outras decisões, e no seguinte faz outra, e as decisões nunca entram em vigor”, observou.

E citou compromissos de redução de emissões de gases de efeitos estufa para conter o aquecimento global jamais respeitados.

“A COP de Copenhague (COP 15, em 2009) ou o Acordo de Paris (2015) até hoje não foram colocados em prática. O Protocolo de Quioto (1997) nunca foi. Então é preciso que a gente crie uma nova governança mundial, e é por isso que o Brasil tem brigado muito para que a gente reveja, sobretudo, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU”, disse Lula.

Ele argumentou que a geografia do pós Segunda Guerra já não existe e que é necessários haver mais países membros participando das decisões do conselho.

A agenda de Lula em Portugal segue em encontro com o primeiro-ministro Antônio Costa, no Centro de Cultura de Belém. Em seguida, participa da 13ª Cúpula Luso-Brasileira.

Ainda neste sábado, na cúpula, Brasil e Portugal assinam 13 acordos bilaterais nas áreas de energia, cultura, educação, turismo, saúde e direitos humanos.