de volta ao programa

Vítima de racismo religioso, Fred Nicácio reencontra agressores no BBB: 'Vocês me causaram dor'

Participantes, que tinham sido eliminados, foram convocados para "repescagem" do programa, e ficaram frente a frente

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Fred Nicácio falou diretamente aos responsáveis pelas ofensas que recebeu na casa do "Big Brother Brasil" - Reprodução/TV Globo

Cerca de um mês após ter sido vítima de racismo religioso na casa do Big Brother Brasil, da TV Globo, o médico Fred Nicácio voltou a se reunir com os agressores em uma nova etapa do programa. No reencontro, ele deixou claro a Key Alves, Cristian e Gustavo: "vocês me causaram dor".

O episódio aconteceu dentro da "casa do reencontro", lançada pela Globo na última terça-feira (21). Nove participantes que tinham sido eliminados nas primeiras semanas do BBB foram convocados para uma espécie de repescagem: dois vão retornar ao jogo, ocupando as vagas de MC Guimê e Antônio Cara de Sapato, que foram expulsos do jogo por importunação sexual.

Logo nos primeiros momentos em que os participantes da repescagem foram reunidos, ainda na noite de terça, era visível o desconforto de Nicácio. Nesta quarta, os confinados discutiam sobre os rumos do jogo quando ele tomou a palavra para lembrar o episódio do dia 20 de fevereiro, quando Cristian, Gustavo e Key disseram coisas como "estou cagado de medo" depois de terem acreditado ter visto o médico, que é candomblecista, rezar.

"Não tenho raiva de vocês. Não é raiva, não é rancor, não é mágoa. É dor. Vocês me causaram dor, dor muito profunda, de muitos anos. Que bom que foi comigo, que tenho preparo mental, espiritual, consciência racial, para conseguir lidar com isso. Pessoas [negras] como eu, que não têm esse discernimento, elas adoecem, entram em depressão, elas morrem por causa disso", disse o médico.

Como todos os envolvidos já tinham sido eliminados do programa em algum momento, eles puderam ver tudo que as câmeras registraram. Nicácio deixou claro que o que os outros participantes fizeram foi crime, e que a equipe jurídica os procuraria.

"Quando uma coisa dessas acontece em um lugar como esse, desse tamanho, onde milhões de pessoas estão vendo, vocês imaginam o que acontece fora das câmeras. Por mim, pelos meus, pelos nossos, isso vai ser levado para a frente, e eu queria comunicar isso a vocês desde já", completou.

"Racismo mata"

Enquanto comentava o episódio aos colegas de programa, Nicácio lembrou que muitas vezes se sentiu diminuído por pessoas que não acreditavam que poderia exercer a medicina. E citou episódios recorrentes em que pessoas negras são vítimas de ataques racistas.

"Vocês nunca vão saber o que é ser seguido dentro de um supermercado. Nunca vão saber o que é tomar uma dura de um policial sem ter feito nada. Nunca vão saber o que é ter um olhar atravessado pra vocês por causa de sua cor", afirmou aos três agressores - todos brancos.

Key Alves, que é jogadora de vôlei, disse ter "sangue de negro", como argumento para tentar se esquivar da acusação de racismo. "Esse é o primeiro discurso de toda pessoa racista", rebateu Tina, outra participante negra do programa. De origem angolana, ela foi a pessoa com quem Nicácio teve mais contato nessa nova fase do jogo do BBB.

"Infelizmente racismo mata. Não é como decepção, que 'não mata, mas ensina a viver'. Racismo mata pessoas todos os dias. Me mata desde que eu nasci. Eu tenho um alvo nas minhas costas desde que nasci, apenas por ser preto", complementou o médico.

Edição: Rodrigo Durão Coelho