Reajustes de mensalidades escolares, esgoto, energia elétrica e planos de saúde pressionaram a inflação em fevereiro. Os preços de produtos e serviços mais consumidos no país subiram, em média, 0,84% no mês. Superaram assim a alta 0,53% registrada em janeiro e também a expectativa de economistas ligados a bancos.
A inflação de fevereiro foi medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10).
Entre janeiro e fevereiro, o IPCA acumula alta de 1,37%. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o índice acumula 5,60%.
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Nesta época do ano passado, a inflação acumulava 5,77% – 0,17 ponto percentual acima da registrada neste ano. Em fevereiro de 2022, o IPCA ficou em 1,01% – também 0,17 ponto acima do verificado neste ano.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, oito tiveram alta em fevereiro. Houve queda de preços de vestuário (-0,24%).
A maior alta foi verificada no grupo educação (6,28%). Sozinho, esse grupo de despesas foi responsável por 0,35 ponto percentual dos 0,84% da inflação do mês. Segundo o IBGE, o aumento reflete os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo.
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As mensalidades do ensino médio subiram 10,28%; do ensino fundamental, 10,06%; pré-escola, 9,58%; creche, 7,20%; ensino superior, 5,22%; cursos técnicos, 4,11%; e pós-graduação, 3,44%.
Depois da educação, os itens que mais subiram foram de saúde e cuidados pessoais (1,26%) e de habitação (0,82%). No caso da saúde, houve impacto do aumento de 1,20% de planos de saúde. Em habitação, destacaram-se o aumento de 1,37% da energia elétrica, de 0,88% do aluguel residencial e de 0,87% da taxa de água e esgoto.
No caso dos transportes, houve alta de 0,37% – abaixo da verificada em janeiro. Ela foi puxada pelo aumento de 1,16% da gasolina, reajustada em janeiro pela gestão da Petrobras indicada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e pela alta de 0,47% do transporte urbano.
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No caso dos alimentos e bebidas, houve desaceleração nos preços da alimentação no domicílio – de 0,60% em janeiro para 0,04% em fevereiro. Houve queda mais intensa nos preços das carnes (-1,22%) e recuos na batata-inglesa (-11,57%) e do tomate (-9,81%).
Inércia causada por indexação
Segundo os economistas Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), e André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a inflação de fevereiro ficou um pouco acima das expectativas do mercado financeiro, que estimavam até 0,78% de alta. Para Oliveira, isso deve fazer com que o Banco Central (BC) evite reduzir a taxa básica de juros da economia, a Selic, já no final deste mês.
Hoje, a taxa está em 13,75% ao ano. Seu patamar está sendo criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que argumenta que os juros atrapalham o crescimento.
"O BC não tende a mexer na Selic agora. Este é mais um sinal para que não se mexa, porque se mandaria um recado ruim para o mercado", afirmou Oliveira. "Mas é fato que há um problema de crédito e que a Selic está alta. A partir de junho, a Selic tende a ser reduzida."
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Roncaglia explicou que o setor de serviços costuma reajustar seus preços periodicamente baseado na inflação passada. Como ela esteve em alta em 2021 e 2022, isso acabou se refletindo nos reajustes de 2023, "carregando" os aumentos passados para o presente.
"O que puxou a inflação foi educação. Como ele é sazonal, ele tende a incorporar aquilo que aconteceu na inflação nos últimos meses", disse.
Márcio Pochmann, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também culpou a "inércia" pela inflação de fevereiro. Segundo ele, no Brasil, quando os preços sobem, eles tendem a pressionar outros preços, prolongando o efeito inflacionário.
"Isso expressa o quanto a economia brasileira segue indexada", afirmou.
Edição: Nicolau Soares