DESIGUALDADE

Brasil cria 83 mil empregos em janeiro; saldo é positivo para homens e negativo para mulheres

Em janeiro, o salário médio de admissão dos homens chegou a R$ 2.096,25, enquanto o das mulheres foi de R$ 1.887,60

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Dados de janeiro reforçam desigualdade de gênero no mercado de trabalho - Reprodução

A economia brasileira gerou 83.297 vagas de trabalho com carteira assinada durante o mês de janeiro – todas elas ocupadas por trabalhadores homens –, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Os dados foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência nesta quinta-feira (9), um dia depois do Dia Internacional da Mulher.

Segundo o Caged, somando homens e mulheres, houve saldo positivo na geração de emprego – mais contratações que demissões. O saldo, porém, está ligado somente à contratação de mão de obra masculina.

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Entre os homens, houve 83.492 mais contratações que demissões em janeiro. Entre as mulheres, ocorreu o oposto: foram 195 demissões a mais.

"Janeiro só teve geração de postos para homens. Não teve emprego feminino", resumiu Paula Montagner, subsecretária de Estatística e Estudo do Trabalho do ministério.

Segundo ela, a desigualdade tem algumas explicações sazonais. Em janeiro, houve mais contratações na construção civil e agropecuária, setores que demandam mão de obra masculina. Houve também mais demissões no comércio, que emprega mulheres.

Ainda assim, o dado chamou atenção do ministério. Na quarta-feira (8), aliás, o governo já havia anunciado medidas para combater a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho. Um projeto de lei que será enviado ao Congresso Nacional com o objetivo de promover a igualdade salarial.

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A medida mira o combate à discriminação salarial de gênero, que voltou a subir no país em 2022, atingindo a marca de 21% de diferença de remuneração entre homens e mulheres. O índice é de um estudo do Dieese, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que vinha apontando para uma tendência de queda nos anos anteriores.

"Uma desigualdade de contratações como essa de janeiro não se justifica. Ela se dá no volume e nas remunerações", reclamou Olívia Carolino, economista e pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. "Por isso é tão importante o pacote de medidas anunciado, que prevê entre outras coisas a equiparação salarial."

Em janeiro, o salário médio de admissão dos homens chegou a R$ 2.096,25, enquanto o das mulheres foi de R$ 1.887,60.

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Ainda segundo Montagner, em janeiro houve também corte nas vagas de emprego para pessoas com deficiência. "Tivemos um saldo negativo de 1.057 postos para pessoas com deficiência e isso não é um sinal positivo. Precisamos mais e mais que esses grupos sejam incorporados [no mercado de trabalho]", concluiu.

Setores e estados

Dos cinco setores da economia (agricultura, indústria, construção, comércio e serviços), quatro tiveram saldo positivo de contratações. O comércio cortou 53,2 mil vagas de emprego. O setor de serviços, por outro lado, gerou 40,6 mil postos formais de trabalho.

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A geração de emprego foi positiva em 16 dos 27 estados, com destaque para São Paulo que gerou 18,6 mil postos de trabalho.

O salário médio real de admissão no mês alcançou R$ 2.012,76, enquanto o salário médio real de desligamento foi de R$ 2.034,98. Em janeiro de 2022, esses valores eram R$ 2.021,49 e R$ 1.977,89 respectivamente.

Segundo o ministro Luiz Marinho (PT), a geração de empregos não foi tão grande em janeiro por conta de diferentes fatores: altos juros na economia, endividamento da população, vencimentos de impostos e até repercussões do caso Americanas.

O resultado de janeiro de 2023 é o pior para o mês desde que a metodologia do Caged foi alterada, em 2020. Ainda assim, é bem melhor do que o de dezembro de 2022, último mês do governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o país perdeu 440 mil vagas de trabalho.

Marinho disse que espera que, a partir do segundo trimestre, a geração de empregos cresça.

Edição: Thalita Pires