O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) afirmou, em entrevista ao Brasil de Fato, que a Assembleia Legislativa de São Paulo continuará sendo um "puxadinho" do Palácio dos Bandeirantes, ocupado atualmente pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No próximo 15 de março, os deputados estaduais elegem o novo presidente da Assembleia. Ao que tudo indica, o posto será ocupado por André do Prado, do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL.
A aliança em torno de seu nome reúne todos os outros partidos da casa, incluindo PT e PCdoB. "Já há um consórcio montando entre praticamente quase todos os partidos em torno da candidatura do PL para presidência."
Para ganhar a disputa pelo cargo, o candidato deve conseguir maioria dos votos, ou seja, 48 votos necessários entre 94 deputados.
O PL é o partido que mais tem cadeiras: 19 parlamentares. Em seguida vem o PT, com 18, e o PSDB – que também faz parte da aliança em torno de André do Prado, com nove. Já União Brasil conquistou oito vagas, mesma quantidade que o Republicanos. Somente com esses partidos, André do Prado já soma 62 votos, sem contar os votos de outros partidos, como MDB, Republicanos e PCdoB.
O PSOL elegeu apenas cinco deputados estaduais. Se levada em consideração a federação com a Rede Sustentabilidade, a bancada tem seis representantes.
Departamento do Palácio dos Bandeirantes
Giannazi afirma que não há surpresa na escolha dos partidos de esquerda em apoiar o candidato de Tarcísio de Freitas, uma vez que há anos utilizam essa ferramenta para conseguir cargos na Mesa Diretora, escolhidos pelo presidente da Alesp. "Do ponto de vista simbólico", no entanto, Giannazi acredita que a decisão "passa uma mensagem muito ruim para a população".
Após a eleição, a tendência é que PT e PCdoB se reafirmem enquanto oposição ao governo estadual ao lado do PSOL. "O PT entra no consórcio para ocupar espaço na mesa, mas vai ser oposição, assim como o PCdoB. É uma separação momentânea."
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Ainda assim, com André do Prado na presidência da Alesp e com maioria entre os deputados, Giannazi acredita que a casa "será um departamento do Palácio dos Bandeirantes, que apenas vai homologar as decisões do governador de plantão, que agora é um Tarcísio, um bolsonarista".
"Haverá continuação da Assembleia Legislativa, submissa passiva e tendo essa característica que eu conheço já há muito tempo: fazendo puxadinho do Palácio dos Bandeirantes. Então apenas homologa, porque o Tarcísio vai ter a maioria. Então ela [Alesp] não vai ter independência, não vai ter autonomia, vai continuar não investigando os casos de corrupção que envolvem o governo, como já aconteceu", afirma o deputado estadual.
"Nós tivemos vários casos que não foram investigados pela Alesp. Os casos de corrupção e superfaturamento do metrô, da Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo], do Rodoanel, da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos], da FDE [Fundação para o Desenvolvimento da Educação]. A gente não consegue aprovar CPI para investigar o governo, porque o governo controla Assembleia Legislativa."
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"Com uma base grande e controlando a presidência, o governo vai continuar até decidindo o que será pautado ou não dentro da assembleia legislativa. A única coisa que o governo não vai controlar é a tribuna. Eles vão controlar todas as comissões permanentes", conclui.
Contraponto ao consórcio do bolsonarismo
Em nota, a bancada do PSOL afirmou que a candidatura de Giannazi fará um "contraponto ao consórcio do bolsonarismo" e que o deputado rejeitará "qualquer projeto negacionista e fundamentalista que estimule a política de ódio e de ataques à democracia".
Entre as pautas levantadas pelo parlamentar, está a revogação de "perversas medidas aprovadas" nas gestões tucanas de Serra, Alckmin, Doria e Rodrigo Garcia, como a reforma da previdência, as privatizações dos parques, florestas e cavernas e também do Complexo Esportivo do Ibirapuera e do zoológico, a reforma administrativa, a revisão do Programa de Ensino Integral, entre outras.
Giannazi também defende a recriação da Superintendência de Controle de Endemias [Sucen] e dos Institutos Florestal, Geológico e Botânico, extintos pelo ex-governador João Doria (PSDB), em 2020, e a criação de um Conselho de Gestão Democrática formado por servidores e entidades da Alesp.
Edição: Thalita Pires