Em mais uma sinalização de que o novo governo pretende mudar profundamente a imagem do Brasil nas relações internacionais, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que a gestão do presidente Lula (PT) terá como eixo central o foco nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Ela participou da abertura da 6ª Conferência Global de Tecnologia Sustentável e Inovação (G-Stic), evento global que acontece no Rio de Janeiro até o próximo dia 15. Pela primeira vez um país das Américas sedia o encontro, que discute soluções para acelerar a implementação da chamada Agenda 2030.
“É fundamental um esforço para que avancemos na compreensão de que a inovação precisa estar a serviço de todos. Precisaremos fazer com que o valor da equidade ocorra também no campo da ciência, tecnologia e inovação, para que essa inovação esteja, efetivamente, a serviço de sistemas de saúde mais equânimes”, disse Nísia Trindade em discurso.
A ministra lembrou que pelo menos metade da humanidade não tem acesso a serviços essenciais de saúde. A falta de saneamento atinge 2,4 bilhões de pessoas, quase 700 milhões não têm acesso a água potável e cerca de 840 milhões vivem sem eletricidade.
A superação da pandemia da covid-19 com garantias de sustentabilidade e equidade para o futuro é a temática central da conferência este ano. Nísia Trindade ressaltou que a emergência sanitária exacerbou a violência e a desigualdade.
“Devemos assinalar que direitos humanos são infringidos em todos os continentes e países. Esses são sinais claros de que não é possível alcançar os ODS com os procedimentos e enfoques de sempre. Precisamos urgentemente implantar soluções tecnológicas e inovações em sentido amplo, integradas em escala e orientadas por uma visão sistêmica e pelas premissas de equidade e justiça social.”
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O diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também participou do primeiro dia da conferência e enfatizou a importância de que as nações atuam em conjunto para alcançar os objetivos de sustentabilidade. Ele falou diretamente da Síria, onde visitou áreas fortemente atingidas por um terremoto na semana passada.
Segundo Adhanon, a tragédia, assim como a pandemia da covid-19 é uma lembrança de que as nações precisam fortalecer suas defesas contra emergências de todos os tipos e construir sistemas de saúde capazes de enfrentar desafios.
“A pandemia do COVID-19 não foi apenas uma crise de saúde: ela causou uma crise econômica, uma crise social e até uma crise política. Ela mostra que quando a saúde está em risco, tudo está em risco.”
Ele disse ainda que o planeta pós pandêmico encara retrocesso de mais de quatro anos na erradicação da pobreza, interrupção de sistemas de saúde, queda na vacinação contra diversas doenças e acesso à educação.
A busca de soluções em tecnologia e inovação para todas essas questões fará parte dos debates do G-Sic nos próximos dias. Com participação de especialistas, autoridades e representantes do setor econômico, o encontro também terá mesas sobre bioeconomia, biodiversidade, desenvolvimento urbano, preservação e parcerias internacionais para cumprimento das ODS.
Herança de Bolsonaro
Um estudo divulgado no ano passado apontou que os quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL) na presidência da república distanciaram o Brasil do cumprimento de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A avaliação é do Relatório Luz, produzido por mais de 60 organizações da sociedade civil.
Segundo o levantamento, que traça um panorama da implementação das metas, apenas 0,59% dos 168 pontos analisados apresentam progresso satisfatório. Outros 14,28% têm avanço considerado insuficiente. A imensa maioria, no entanto - mais de 80% dos compromissos acordados - estão em retrocesso, sob ameaça ou estagnados.
O documento atual mostra que as metas em retrocesso aumentaram, em comparação com os últimos dados, de 2021, passando de 92 para 103. O progresso insuficiente, que havia sido observado em 13 objetivos, passou a atingir 23 deles.
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Além de estar atrasado no cumprimento dos ODS, o Brasil falha em garantir informações sobre o andamento de alguns setores. O Relatório não conseguiu dados brasileiros sobre 4,76% das metas avaliadas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho